Página inicial


  • Piancó, Ianco, Chico, Jó, João Leite e a evolução cultural

    01/04/2019

    Ali estavam eles no salão repleto. O secretário de educação do Estado declarou a sua simpatia pelo lugar. Uma pós-verdade, de que se fala ultimamente? Identificou-se como filho do Rio Grande do Sul, talvez de Alegrete, de onde partira a Marcha dos Tenentes que passara em Piancó. Eu conhecia poucas pessoas na multidão. De família local, pelo casamento meu pai fixara-se noutra ribeira. A ela dedicávamos as nossas atividades sociais. As minhas visitas a Piancó, eram episódicas, aconteciam no congraçamento familiar de casamentos, batizados, aniversários. Ambiente e cerimonial restrito, não passavam de um dia. Não dava para firmar amizades. Falo dos vales dos rios do Peixe, Piranhas e Piancó. Sem conflitos, cada região defendia os seus projetos e no contexto a sua representatividade. Presentes à sessão, eu avistava Aguiar dos Bento, Santana dos Teotonio, Uirauna dos padres e da Banda de Dedé Capitão, por onde a Coluna entrara na Paraíba.. 


    A lista dos participantes do encontro relacionava prefeitos, vereadores e demais autoridades da região. O tema era formal, e também exponencial, tratava de um projeto de natureza histórica, turística, cultural, com reflexos positivos na fixação desses valores na consciência dos cidadãos. O ITINERÁRIO DA PASSAGEM DA COLUNA PRESTES NO SERTÃO PARAIBANO, objetivava, igualmente, a geração de empregos, a prática da visitação e do laser. 


    Atentei para um idoso de cabeleira e barba grisalhas, revoltas, que circulava com uma câmera fotográfica apontando em todas as direções, registrando flagrantes. Era olhado por todos com respeito e admiração. Era Chico Jó, autor do projeto. Transformara-se num ídolo local. Chegara a Piancó e integrara-se ao ativismo sobre questões sociais, então esquecidas ou adrede discutidas. Outro, grisalho, magro conferia o cerimonial, sacou o saxofone e com o sopro irretocável, largou uma melodia estrangeira, de gosto atual, foi muito aplaudido. Era João Leite, filho da cidade, integrante da orquestra sinfônica do Estado e de área acadêmica da UFPB, Secretário Municipal de Cultura. Criaturas admiráveis, solidárias distinguidas na prática do bem comum.


    Inacreditável me parecia o comportamento disciplinado de mais de duzentos adolescentes. Dava para sentir que eles se consideravam participantes do memorável acontecimento. Nada de piIhérias, mas atenção e aplausos oportunos. Os tempos eram outros, eu percebia, com o pensamento voltado para o meu pai e a minha avó, orgulhosos de sua terra natal.


    O paulista Solha, paraibano por livre escolha, nos raciocínios e publicação de suas conclusões, através de telas e fotografias, desenhos, construções tem procurado demonstrar que “O NOVO É A TRANSIÇÃO ENTRE O QUE JÁ SE FOI E O QUE NÃO SE SABE O QUE HÁ DE SER” e eu acrescento: PROCURA SER. Importantíssima a presença de Solha na vida cultural paraibana. Assim outro paulista Fernando Moura e o gaúcho Lau Siqueira. Devolvem com a sua produção intelectual em obras consagradas pela crítica, a força dos nossos braços, o suor do nosso corpo na edificação de sua riqueza arquitetônica, na extensão dos programas agrícolas pecuários que enriquecem o Sul e Sudeste do país.


    Quanto ao fuzilamento do padre Aristides, disponho de bibliografia fartíssima, para comprovar que o fato não se relaciona com a política municipal, particularmente, mas com a nacional nas suas manifestações mais preconceituosas e reacionárias. Comentarei noutra oportunidade. 


    Considero importante ressaltar e o faço transcrevendo parágrafos de texto de minha autoria:
    Quando a Coluna dos generais Djalma Dutra/Siqueira Campos/Miguel Costa (depois chamada Coluna Prestes) realizava sua marcha histórica através do país, não era seu propósito o combate armado, mas a divulgação de ideias sociais renovadoras na política nacional. Os reclamos do povo contra o atraso econômico e social que tal procedimento acarretava ao país, era escutado pelos militares. Uma Verdade que muitos piancoenses ignoram, mas precisam saber.


    Destacar Piancó como inimigo da modernização dos costumes políticos, defendida pela Coluna Prestes ofende a tradição democrática construída pelo seu povo. Celso Mariz registra que “A Coluna Prestes manterá na história do país uma tradição inapagável de idealismo cívico e a medida de uma das mais belas marchas militares do mundo”. A oposição e o combate aos jovens militares que integravam as suas fileiras, trata-se de infeliz postura de desprezíveis criaturas na defesa de interesses pessoais. Bestializar a tradição da luta pela democratização, só cabe na cabeça dos que desconhecem a verdade histórica, ou colocam o seu interesse pessoal contra tudo e contra todos.


    Piancó não merece tal rebaixamento moral, tal despropósito, que constitui uma traição à tradição deste povo bravo, que tem entre os de ontem e os de hoje, legítimos e mais altruístas personagens e heróis. Homenagens, todos devemos, e eu as presto, aos heróis daquele trágico dia, os bravos cidadãos piancoenses, alguns anônimos, sacrificados inocentemente pela leviandade traiçoeira do Padre Aristides. Eles lutaram convencidos que defendiam a honra da cidade e do Estado, quando na verdade defendiam simplesmente o prestígio pessoal do Padre Aristides como chefe político, para auferir as vantagens e gozar o prestígio oferecido pelo governador, em prejuízo da moralidade e dos bons costumes, para perseguir os que não o apoiavam, como fez e hoje tentam esconder, enganando a boa fé alheia. Avante brava gente de Piancó. Tudo pela democracia e pela liberdade. 


    Voltar