Página inicial


  • Sementes de inclusão social

    22/11/2016

     Quero construir praças no campo. Uma idéia que não tiro da cabeça na solidão que vivo na fazenda, sem outra opção que a televisão, a internet, os livros. Outros também sentem essa falta. A exclusão social nos alcança. Necessitamos do contato humano, de conversas de negócios de festas nossas, não de sua representação, macaqueação de vaquejada em “bolão”. Alerto os governantes. Não se trata de problema orçamentário,arquitetônico, mas existencial. Li sobre a Demografia, os seus conceitos, as suas leis. Sem maior profundidade,devo esclarecer, mas o suficiente para assenhorear-me dos seus princípios básicos. E nas reflexões sobre a verificação de sua validade, descortino, ou melhor, assisto e participo da grande mobilidade que determina a situação atual das populações quanto à nacionalidade, naturalidade e sua fixação. O desenvolvimento das relações sociais que criaram a conjuntura atual foge à regra da evolução racional, diria razoável, submetida sempre e determinada, pela influência ou imposição de regras determinadas pelo Senhor Mercado Neoliberal. Esta é a grande verdade. A história o comprova desde o êxodo bíblico às remoções populacionais estalinistas, nazistas. A invasão das áreas desenvolvidas economicamente, ou litorâneas, pelas populações pobres acontece em todos os lugares, na Europa e nos Estado Unidos principalmente. Falando do nosso país, o exemplo de São Paulo e outros estados do Sul, vêm a calhar.O campo é sempre a vítima. Até aqui na pequenina Paraíba, na cidade de Pombal, a população inteira de um distrito, ali residente, distante apenas trinta quilômetros da sede do município, foi condenada a perder todos os serviços públicos que ali funcionavam, e teve de aceitar a transferência do seu domicílio eleitoral ex-oficio, na marra, por uma questão de economia das finanças públicas: menor despesa com a construção de estradas, a instalação manutenção de equipamentos burocráticos e seus serviços. Tento explanar, nestas considerações, algo a propósito do isolamento quase absoluto a que estão submetidas pessoas que ainda vivem no campo,por escolha ou vítimas de coerção, de um constrangimento dissimulado.Tal fato levou os agentes do Mercado à criação de um novo ramo do direito atinente à cidadania, chancelado por organismo público (UNICEF) o “direito à cidade”, explicitado em painéis com metas específicas, em São Paulo e no Rio de Janeiro a propósito de direitos da criança, etc.Puro favorecimento da atividade mercantil, concentrando a exposição e comercialização dos produtos sem maiores procedimentos ou despesas. Barateamento da prática, aumento do lucro. Nada sequer parecido faz o Mercado em relação ao meio rural. Senão arremedos exaltando um comportamento algo primitivo e atrasado, destruindo um passado experiências de vida. Chamo a atenção dos pensadores do novo mundo, para o fato de que, ainda vivem moradores no campo, que lá se reúnem para negócios e para o lazer, para as atividades lúdicas, e são pessoas. A concepção de “praça” não se restringe à planta arquitetônico-urbanística, exclusivamente, de um espaço qualquer, no seu traçado, para uso na cidade, um monumento de concreto. Mas de um local de encontros e reunião de lazer de negócios: banhos, comércio de bichos, de legumes. É preciso criar praças rurais. Quero criar praças rurais. Serão expressões de uma realidade cuja vivência nada pode reproduzir, somente estimular parcerias vivenciais na indústria, na arte. O processo produtivo agrícola e pecuário, as festas votivas, as gestas que fizeram nascer aagilidade da poesia, do cordel, são frutos da vida campestre, impossível encontrá-las na cidade. Desaparecerão sem referências apropriadas à sua natureza e origem. Somente as praças rurais as salvarão. A ciência e a técnica permitem a produção de bens e serviços, até a ameaça de exaustão do produto explorado, industrializado e do ambiente natural. A cultura, esta, perde a noção de sua cristalização em tradição e costume. Tudo vale como mero folguedo. E esta riqueza resta inutilizada, perdida ou abandonada ao relento, e em projetos anotados em livros volumosos nas estantes, na memória dos computadores. Criação de mitos inconcebíveis numa sociedade justa. Perdem a publicidade e sentimento coletivo para sua fruição. Ainda bem que os governos petistas, na linha de sua política de inclusão social, na busca de identificar e anotar procedimentos e costumes, criou nos “pontos de cultura” o instrumento e o meio de preservar a identidade cidadã. Diferentemente das assembleias dos grandes, pela vivência popular, que não dá com uma mão e toma com a outra como a “Lei Rouanet” e outros dispositivos legais protecionistas."


    Voltar