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  • Ramalho e Bananeiras; eu e Sousa

    26/10/2015

     Tinha uma família em Sousa, que atraía e afastava interlocutores: aqueles que gastam horas “jogando conversa fora”. Exageravam nos detalhes e na imbricação, quando falavam nos relatos da vida. Uns adoravam, outros arreliavam. Assim uma chegada, uma partida; um aniversário, um enterro; compra e venda de gado, de animais; o pagamento em dia ou atraso na data aprazada; um casamento, uma formatura. Começavam: “Por falar no assunto [...] só para mostrar a semelhança, certa vez em Cajazeiras [...] o homem tinha fama porque matara um em Piancó [...] a moça mancava de uma perna porque tinha um pé de bola, um desgosto para a família [...] recentemente, anos atrás em São João do Cariri [...] o avô foi prefeito e representante na Assembleia, bacharel casado em família do Brejo.” Atravessavam anos, décadas, recuavam anos décadas com pessoas e acontecimentos relacionados. Educados, finos, convidavam para sentar na sua calçada, serviam água fria, café e chá. No princípio do século passado era a família mais rica da região. O velho, Zequinha Elias, do Mamoeiro. As suas terras subiam a Serra do Comissário. Deixou rebentos destacados socialmente: o meu colega advogado Deoclecio Elias, hoje desembargador federal em Brasilia, o médico deputado Laércio Pires, meu colega de legislatura na Assembleia Legislativa da Paraíba, falecido, e o médico Severino, “Seu Biu” oficial da Marinha em Natal. Numa viagem a cavalo que levou uma semana, partindo de Brejo de Areia, o recém-nomeado promotor público da comarca de Sousa José Américo de Almeida, bateu palmas numa casa senhorial na extensa várzea, já nas cercanias da cidade. Os animais de sela e carga, dele e do pajem que cuidava dos mantimentos, cansados beiravam a exaustão. O ano era difícil, enfrentavam os sertanejos a crua seca de 1915 que criou legenda e frutificou relatos do Ceará com o romance de Rachel de Queiroz “O Quinze”. Os da casa notaram a extenuação dos viajantes, os atenderam cortesmente, mas o patriarca não apareceu. Assim narrava o romancista de “A Bagaceira”. Os pedidos de ajuda dos viandantes eram frequentes. E pouco ou quase nada podiam oferecer. Sem entrar nos detalhes importantes em narrativas como esta, o romancista tentando arrancar informações do lugar e inferir qualificações entabulou conversa. Por fim o coronel Zequinha apareceu no alpendre e ofereceu-lhe confortável preguiçosa, informou sobre pensões na cidade, colocou à sua disposição o seu cavalo de sela para concluir a viagem, extraíu o que precisava saber do viajante. Esta narração, sabendo-me de Sousa, escutei-a de viva voz do Ministro na sua mansão no Cabo Branco, e mais notícias da minha terra natal naquele tempo. Os ricos, os intelectuais, as reuniões sociais familiares, os saraus, a politica governo/oposição, de tudo ele falou. E as tragédias climáticas. Tudo ele fixou no seu romance, que insisto em dizer nasceu em Sousa, onde ele morou durante um ano e ensaiou cançonetas ao violão com a jovem Mariquinha Doca – a nossa Chiquinha Gonzaga sertaneja. Morre aqui, a minha memória do promotor público José Américo de Almeida em Sousa. Um adendo apenas, para registrar os resmungos de Maria Emilia Mariz, casada com o ilustríssimo bacharel Milton Barata de Oliveira irmão do senador Arquimedes de Oliveira, nome de rua nos Aflitos bairro nobre no Recife, de Zezé proprietário da Usina Catende. Colega e contemporâneo de curso na Faculdade de Direito do Recife, José Américo, certamente lhe relatara travessuras acadêmicas de Milton. Daí os resmungos e tratá-lo de Zé “Ramona”, ele promotor público, romântico valseador nas salas da nobreza interiorana. Esta minha certidão de inteiro teor, é na verdade resumida, sem os detalhes notarias de datas, títulos, cargos, promoções etc, que ofereceria o acadêmico Ramalho Leite, do IHGP, aí sim. Pouco falei de Sousa e nada da Bananeiras de Ramalho. Fica para depois. Mas tem muito muito para escrever. Confiram nos seus textos futuros. Fica por conta dele e de Tião Lucena, bananeirense por adoção. Bananeiras para mim é a família Bezerra Cavalcanti. Dr. Clóvis meu amigo vice-governador. Médico, deputado, chefe político, fazendeiro, meu colega secretário de Estado, caçador por diletantismo. Coisa de nobre. Ramalho hoje domina o cenário, mas custou chegar, andou pelo aceiro, persistente, inteligente, e os Bezerra foram vencidos, parece, pela preguiça. Melhor dizer: pela competência de Ramalho."


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