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  • Ferrovias, espionagem, o xote ecológico e FHC

    09/08/2015

     Deliciei-me com a leitura dos recentes comentários de Ramalho Leite tratando de trens de ferro que circulavam entre cidades do Brejo, e de um alemão de pose germânica algo irritante, vestindo paletó, andando por lá. Era o período da Segunda Guerra Mundial, e despertava suspeição tal procedimento, que poderia esconder uma ação para infiltração e recrutamento secreto de agentes de espionagem. Tal raciocínio ocorria naturalmente às pessoas melhor informadas, que escutavam o noticiário das estações de rádio.
    A lembrança dos trens é dolorosa para nós sousenses, dos alemães nem tanto. Mas vale a pena ler Ramalho pelo comprazer do seu estilo. Em feliz decisão a APL o incluiu no seu quadro de imortais. Um escritor de peso.
    Chama atenção e confere veracidade às anotações de sua estimulante lembrança, a datação do tempo da guerra, e o alto montante de recursos em dinheiro aplicado em negócios, escondido, enterrado por um estrangeiro, no caso um germânico. Tinha muitos deles ali perto, em Rio Tinto. Uma ponte, um acesso? Preocupava todos.
    O mundo inteiro, em áreas consideradas estratégicas, era objeto de ações do serviço secreto dos Aliados e do Eixo, objetivando ações militares. A costa da África estava ali à vista. No Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará os norte-americanos fixaram bases avançadas, Romantizavam até a vida social, com salões dançantes ao som de rumbas caribenhas, mostradas nos filmes americanos, figurando atores famosos.
    A legenda do Cassino Americano no Recife, ponto de encontro da oficialidade da aeronáutica do Tio Sam, em momentos de folga, curtindo os bares noturnos, a área da prostituição, era lembrada pelo poeta Celso Novais nos nossos papos no Cassino da Lagoa, ele naquele tempo estudante de direito do Recife. 
    Interessante descobrir a semelhança de lembranças de nossa vida ainda na juventude. Revelam o peso histórico dos fatos políticos ou danos da natureza, catastróficos, deixando marca nos costumes, na crônica do dia a dia local e universal. O mundo é um só. E hábitos e regras assemelhados, pela vizinhança geográfica, datam eras.
    Pois na minha Sousa também os trens corriam nos trilhos, chegados antes na rota do desenvolvimento do país. E alemães sem dinheiro, talvez comunistas fugitivos do Reich que os perseguia e exterminava ferozmente. Seria o caso de Sousa, homiziados os tedescos pelo meu tio afim Manoel Mariz, reconhecidamente um comuna de carteirinha. Daí a suspeita.
    Dois alemães que moravam na propriedade de Manoel, eram avistados na cidade nos dias de feira, comprando mantimentos. Ah a rica imaginação popular! Circulavam, comentários sobre a construção de um subterrâneo, com instalações de equipamentos para transmissão pelo rádio de algo contrário aos interesses das forças aliadas. O assunto do dia. Era preciso investigar para descobrir a verdade. O povo gosta dessas emergências. “E daí, e agora, como vai ficar?”
    Varejada a propriedade, a polícia encontrou apenas uma pequena casa de taipa com novo reboco, antes abandonada, onde eles moravam ou se escondiam da curiosidade, e também a escavação de terra para a construção da parede de um pequeno açude. Nada mais. 
    Augusto e Hans, presos juntamente com Manoel, todos foram soltos dois ou três dias depois. Augusto deixou família em Sousa onde faleceu, e casara com moça da terra. Uma família amiga. O outro sumiu.
    Agitada em rodas de comentários, a cabeça se voltando para um lado e para outro, os olhos espiando, a cidade retornou à normalidade. Lembro estes acontecimentos, que pouco me interessavam, mas enchiam a minha cabeça de suposições comentados na minha casa. Minha mãe lamentava: “Manoel não tem juízo.” 
    Mas a cidade parece que se tornara rota dos fugitivos, mesmo terminada a guerra. Lembro de outros que chegavam e partiam. Uma galegona linda de biquíni, espantava e atraía curiosos para a piscina de São Gonçalo. Sumiu. O mundo é um só. 
    Quanto aos trens, mesmo sem bombardeios aéreos, pararam de viajar transportando passageiros e cargas. Hoje rostos tristes, envelhecidos choram a mágoa do crime lesa-pátria cometido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o venal FHC, que os vendeu, isolou populações, barrou o progresso. Mas nos vingamos com uma paródia do Xote Ecológico cantado pelo negro Luiz Gonzaga, que fala na flor que tava aqui poluição comeu... e tudo desapareceu. 
    O nosso problema foi a corrupção. Assim cantamos nós: 
    “Cadê o trem de Mossoró? FHC vendeu.
    Cadê o trem do Recife? FHC vendeu.
    Cadê o trem de Fortaleza? FHC vendeu
    E o dinheiro ele comeu.”


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