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  • Machado, Xavier de Maistre, Druzz e Solha

    28/07/2015

     A literatura de viagem − no sentido da descoberta e intercambio de regiões, civilizações, quanto ao comercio, a ciência, as artes, os castelos, abadias e instalações públicas, nas nuances do traçado de suas linhas arquitetônicas, nos conduzem através de tempos pretéritos. 

    O pontilhismo e o cubismo, a técnica expressionista que contrapõe Palestrina e Carl Orff, os costumes do ponto de vista do observador embalam, assustam a alma – mas tornaram-se familiares, entre nós, pela leitura do velho Machado nas Memórias Póstumas de Brás Cubas, e também do clássico Garret nas viagens pela sua terra. 
    Assim conhecemos e sabemos do mundo dando asas à nossa imaginação, carregando nas cores da nossa preferência, o relato descritivo de ambientes e pessoas que nos oferecem Guimarães Rosa e José Lins do Rego, artística e pedagogicamente criando uma consciência nacional, em causa − nossa própria representação psicológica que emoldura o traço exibicionista do caráter de cada um. 
    Antonio Cândido com a sua competência e erudição, em símile exponencial reconhece no “ato falho” [...] “um momento de tomada de consciência pela literatura da personalidade dividida... que dentro do homem convivem de modo nem sempre pacífico: a alma e o animal (a besta).” 
    A mudança do comportamento das pessoas nas pequenas comunidades, poderia ser considerada sociologicamente ou psicologicamente “atos falhos” no entendimento de Antonio Cândido? 
    Eis aonde chegamos, dando crença a essas ilustrações de ciências que enfeitam a realidade. Assim nasceram as guerras. Não sobrava tempo para lutar pela paz.
    No meu caso, esclareço, não falo de viagens nem de vilegiaturas de ricos, mas de passeios de desocupados, levados na busca de um mundo desaparecido, aniquilado inevitavelmente pelas mudanças sociais, pelo progresso econômico. 
    Encontro povoações antigas, afastadas das estradas reais, cidadezinhas teimosas que tentam sobreviver na oferta de novidades da modernidade, que o mercado faz chegar às grutas, às serranias. Pizza, batata-palha, biscoitos crocantes, nada de cuscus, de bolacha-comum.
    Assevera Antonio Cândido que “Machado um talento de envergadura... ele percebeu... as contradições do comportamento e da mente”. [...] “Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garret na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.” Explica Machado na nota introdutória do Dom Casmurro.
    É o que transparece do erudito diálogo entre Druzz, Solha e quejandos. Serve a muitos, nos leva à aventura do saber e nos transporta em suspiros e desmaios de prazer e decepção. Porque a verdade comprovada em obras escritas parece estar nas suas observações. O Google e o designer substituem a pedagogia como instrumento de cultura. Por isto vou caminhando, a despeito do tempo e da distância. Mesmo destoando da marcha para a frente, no coice da boiada no seu ímpeto ameaçador, temeroso, é preciso seguir.
    A vida como ela é: da catapulta para a bomba atômica, do Cavalo de Troia para os drones.

     
     
     
     
     


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