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  • Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba

    21/07/2015

    Uma circunstância, antes ignorada e indiferente na minha crônica pessoal, hoje, me envaidece − a minha origem familiar cearense, pelos lados paterno e materno. Quanto à natividade, era eminentemente votiva à minha pequenina e heroica Paraíba, onde nasci, estendida a sua ramificação do vizinho Rio Grande do Norte.
    O Ceará guarda a beleza dos “verdes mares bravios da minha terra natal”, os epigramas de Paula Ney e Quintino Cunha, o saber jurídico de Clóvis Bevilácqua, o Rio Grande do Norte cultiva a glória do jornalista, político, inventor e aeronauta Augusto Severo, nome de rua em Paris, a imtelectualidade de Câmara Cascudo, nós paraibanos anunciamos nos “Diálogos das Grandezas do Brasil” a antevisão do nosso futuro, o padre Francisco João de Azevedo com a invenção da máquina de escrever, cujo teclado mecânico ainda compõe o moderno computador, o Poeta do Eu, sem exagero o mais lido em todas as línguas pela juventude em todo o mundo e as ideias libertárias e republicanas do mártir José Peregrino. Ilustre, portanto, a minha ascendência, a minha atividade – a prosápia ancestral misto de mascates e letrados. Aí está o meu orgulho.
    A verdade é que a transmigração – palavra desusada que me espantou e encantou no estudo primário no capítulo da “transmigração da família real para o Brasil” −, é uma expressão do comportamento, da conduta inerente ao ser vivo, daí eu não ser exclusivamente paraibano, mas igualmente cearense e norte-riograndense. 
    Palavras com muitas sílabas me encantavam – tessalonicense que está na Bíblia e pouco guardo do seu significado linguístico, geográfico, além do seu relacionamento com a vida, o credo cristão.
    Indivíduo falante, portanto, sofro e enfrento a descoberta que, hoje tenho pouco para dizer sobre pessoas e fatos do passado, que alimentavam a minha loquacidade. A idade que pesa. Recorro por afinidade e amor a uma cidade no significado dos seus costumes e tradição política, intelectual e social – o Recife −, para rever a minha querida Sousa.
    Mário Sette, um letrado de vasta obra, que ocupa modesto espaço na literatura brasileira, oferece-me, todavia, o quadro panorâmico para situar a minha vida, a minha cidade, a minha gente, a partir de textos de duvidoso sabor literário que deixo como crônicas, contos, poesia, romances, breves ensaios de caráter político, que escrevi para encher o tempo, pensando nos manes e penates que enfeitam e definem a sociedade dos homens.
    Explico-me quanto ao Ceará na minha origem familiar: o meu avô paterno José Gonçalves Matos Rolim, egresso de Lavras da Mangabeira, fixou-se e deixou descendentes na cidade de Cajazeiras; no Rio Grande do Norte a abastada familia Sousa Nogueira de Mossoró, incorporou pelo casamento o cearense de Sobral, Miguel Faustino do Monte, que mandou a sua sobrinha Natércia com o marido Tiburtino para criar e administrar em Sousa, a filial de sua empresa comercial que dominava os sertões do Rio Grande, Paraíba e Ceará.
    Pois aqui estamos, muito que bem felizes, graças a Deus. E cumprimos o nosso destino, com entrelaçamentos, ascensões e quedas. Mas seguimos, resistimos.


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