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  • Reflexões impertinentes

    15/05/2015

     A poesia é expressão-manifestação psicossomática do ser vivo. Todos, todos a produzem. Não escutei ainda o canto das estrelas, não li os textos dos cometas, não que estejam mortos. Mas a nossa galáxia e o universo se expandem, movidos por uma força cósmica, produzindo e criando fenômenos. Arrisco esta opinião pessoal à margem da ciência conhecida. E me dou por satisfeito. Se alguém a formulou, igualitariamente similar, é coincidência pura. Ou por se tratar do “óbvio ululante” rotulado pelo nefasto Nelson Rodrigues o retratista intimista de teses apressadas, preguiçosas, inconclusivas, cretinas, sem buscar na análise cuidadosa a verdade do pensamento escondido no compor- tamento. Explosões em vez de harpejos, diria liriais, épicos ou líricos, como queiram. A poesia, entretanto, sempre será sonora, a prosa descritiva, explicativa; a fantasia sempre a superfície inconclusiva da inteligência limitada, sem padrões objetivos.

    Encontro-me no momento, perlustrando dois textos breves − em fugas internáuticas, que tudo permitem porque sabem o sabido e conhecido, pois só estes nos servem. Leituras panegíricamente pessoais de Carlos Nejar e Eduardo Portella – gaucho e nordestino atualizando, troando e mazurcando fandangos e forrós em ter- reiros, em salas, em campo aberto, nos pampas e nas catingas, no rifle e no punhal, atravessando eras, exercitando o pensamento. Apelos para Guimarães Rosa, Zé Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Gilberto Freyre e Dionélio Machado que também trilham esses caminhos. A clareza e a complexidade ilustrativas que constroem a literatura e explicam a história. Cientistas como artistas e artistas como cientistas se mostrando. O coloquial de Zé Lins e o cientismo “up-to-date”, incontestável e eficiente de Augusto dos Anjos, no Nordeste; e Carlos Nejar e Dionélio Machado no Sul, nos rasgos gauchescos da flama e do recolhimento marcando a sociedade, agredindo-se em destemperos incontidos, sentimentais, expressão da luta dos contrários. Algo como a leitura dos “Lusíadas”, que dispensa memória de tese sobre o desenvolvimento político e econômico da Europa, nascidos em Portugal e na Espanha no século XVJ.
    A história é o fato, não se improvisa em tentativas. Aí fica para os chamados bastidores, quintiliânicos − na linguagem persuasiva das palavras, da retórica. A falsa política. Mas, resultado da condição humana, portanto, eis o texto literário, a poesia e a prosa. Não diria opção arbitrária de desestabilização da linguagem, porem eventual, fruto do amor, da dor, do egoísmo, da ambição, da glória e mais alvitres que povoam sua aura ignota, como das florestas e dos desertos. 
    Ouvi falar que os kardecistas sustentam que os animais, como o homem, também possuem alma. Perdura, entretanto, segundo observo, entre as duas expressões anímicas a condição de superioridade e inferioridade, vistas comparativamente ou não. Aí está, para mim, o segredo, o inevitável destino dos lados da vida, que está no “Livro dos Espíritos”, a impertérrita vivência: o rico e o pobre, o valente e o covarde, o novo e o velho. Assim os homens as entremostram e vivenciam.
    Ah a vida! Gosto desta exclamação desamparada, muitas vezes assim a sofro. Confesso-me preconceituoso, ciumento, despeitado com as afirmações que parecem convincentes, me contradizem, porém não as considero verdadeiras. 
    “Se quiserem saber quem sou/ - Não sei quem sou/ Só sei que em mim/ A sombra e a luz/ São vultos,/ Que se buscam e se amam/ Loucamente.” (Carlos Nejar}.
    O pernambucano acentua:
    “O patrulhamento é hiperpreconceituoso, é um exercício contundente do preconceito, é um desrespeito ao outro. Nós só somos democratas se formos capazes de aceitar o diferente da gente.” (Eduardo Portella).
    A arte realiza a utopia de cada um, na expressão plástica, estilística, conotativa, construtiva, do pensamento e da ação, inevitável, avassaladora, enfim. Partimos da postura sensitiva para a realização objetiva. “E agora José?”; “Deus, ó Deus, Onde estás que não respondes?”; “Ora, direis: Ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!” 
    “O Grito da Independência” e “Os retirantes”, “O trabalhador” realizam a revelação estética de uma realidade política e social legendária por Pedro Américo e Portinari. 
    As pessoas se interessam por disputas, combates, vitórias, conquistas. Ampliar espaços e ocupá-los para a realização que explicaria a tese, a proposição fruto de um esforço que alimenta sentimentos utópicos, constroem uma identidade pretendida. Eis a questão.

     
     
     


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