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  • Prosa Caótica II

    04/01/2015

     "ATENÇAO. Importante ler. Dada a dificuldade de contratar a editoração e publicação do livro abaixo nomeado, intercalo às notas diárias, a partir de hoje, trechos da referida obra. DURO RECOMEÇO - PROSA CAÓTICA II (TEXTOS POLÍTICOS E LITERÁRIOS 1980-2014) Prefácio Os textos a seguir organizei-os num mesmo volume, dada a identidade estilístico-temática que os reúne – memória, biografias –, e a unidade ideológica que os integra. Em primeiro lugar combino lembranças e reflexões, que denomino literariamente “jornal”, o que se torna óbvio pela sua leitura. Colijo artigos e o que chamo de perfis e pequenos ensaios, sobre temas para mim relevantes. Alguns textos foram publicados em jornais ou revistas, outros divulgados em sites na internet. Como afirmei em outras oportunidades, ao longo de minha vida, amadureci ideias, conceitos, convicções. Muito jovem, ainda, aí pelos dez anos de idade, a candidatura de um parente (Manoel Mariz de Oliveira, tio-afim) a deputado estadual pelo Partido Comunista, chamou a minha atenção para os valores sociais, em razão das discussões sobre o assunto no seio da minha família religiosa, conservadora. A nossa cidade, na época, secularmente se curvava às exigências e ao domínio tutelares da Igreja Católica Apostólica Romana, que “amparava as oligarquias mediante o controle do movimento sindical e popular, deles expurgando qualquer traço esquerdizante, fosse radical, socialista, comunista ou mesmo liberal maçônico.” Em breve noticia autobiográfica, alinhei referências sobre a minha participação na política partidária da minha cidade, que teve início na Década Sessenta do século passado, ao lado de Clarence Pires, Antonio Mariz, Romeu Gonçalves e outros conterrâneos e amigos. Em eleições seguidas marchamos numa frente de atuação comum, tendendo às posições ditas de esquerda no cenário político nacional. A história local confirma os lances dessa militância político-partidária. Considero um dever frisar que, para a avaliação de minha efetiva participação na luta política que dominava o país, a militância levou-me – estudante ainda da Faculdade de Direito do Recife –, na aliança operário-estudantil, em algumas oportunidades, a entrincheirar-me nos piquetes de violentos protestos do proletariado pernambucano, nas greves da “Tecelagem de Macaxeira”, do Sindicato dos Comerciários, na Rua da Imperatriz. Os ideais reconhecidamente “apaixonantes e otimistas do marxismo-leninismo e os triunfos imperiais dos exércitos do generalíssimo” (Stálin) na Segunda Guerra Mundial infundiam persuasão e esperanças na juventude que comentava e estudava a história nas universidades, através de leituras, na imprensa, de debates nos encontros político-culturais. Passei, por fim, como cidadão e profissional, a vivenciar os pro-blemas do povo e do país, na urgência do momento, do agora. Buscava um modelo na história brasileira e encontrei-o no reformismo constitucional, dúbio é verdade, que nos legou a chamada Revolução de Trinta. Lutava como ainda hoje o faço, por um governo nacionalista no âmbito da cultura e da economia. Mas, igualmente fraterno, como anunciava o internacionalismo proletário prometido pelo socialismo de Estado em voga. E dele não me afastei. Concluo estas considerações, que visam esclarecer a minha participação nos fatos da história política de Sousa e do país, ao raciocinar em termos atuais, com o sociólogo Emir Sader no seu “As Ruínas da Democracia” (Correio Brasiliense 24 de outubro de 1999), que: “Nós já tivemos mais clareza sobre o que é uma democracia. Hoje as coisas são menos claras.” Era no tempo em que “a imprensa e os meios de comunicação representavam no contexto democrático, um recurso dos cidadãos contra os abusos dos poderes”. Foi essa peculiaridade corretiva, chamada de Quarto Poder, ao lado do Legislativo, Executivo e Judiciário, poderes “que podiam falhar, se equivocar, cometer erros”. (Ignácio Ramondet “Le Monde Diplomatique 2006). Por certo período, jornalistas destemidos pagaram caro pela defesa desta tese, foram vítimas de atentados, desaparecimento. Por último, com o advento da globalização liberal e o surgimento de um novo tipo de capitalismo, agora especulativo, eles perderam totalmente a importância e função de instrumentos do contra poder, no processo de comunicação de massa. A mídia teve de se organizar em gigantescas empresas, superpoderosas, cuidando desde a produção ideológica de textos até a sua massiva distribuição, assumindo no confronto brutal entre o mercado e o Estado, a defesa do setor privado em oposição aos serviços públicos. Já não era mais “a voz dos sem voz.” Não foi possível fugir ao impasse. Era a globalização liberal que chegava feroz e implacável. Ficou claro que o novo modelo que assume o capital especulativo formando megaempresas, atuando em escala planetária, tornou o peso dos seus negócios mais importantes que as decisões de governo e de Estado. A mídia participou do processo, incorporando-se aos blocos. Em meu auxílio menciono o instigante e oportuno ensaio de Ignácio Ramonet, lido na internet, que aprofunda a análise do tema. A consciência política da realidade que nos é imposta, de modo cruel e impassível, motivou o protesto do patriota Oduvaldo Vianna Filho que em 1974, antes de falecer denunciava e argumentava: “Reduzir uma sociedade de 100 milhões de pessoas a um mercado de 25 milhões, exige um processo cultural muito intenso e muito sofisticado. É preciso embrutecer esta sociedade com uma força que só se consegue com refinamento dos meios de publicidade, com um certo paisagismo urbano que disfarça a favela, que esconde as coisas.” Tal realidade, produzida por descuidados ou cooptados intelectuais então atuantes no cenário cultural, arrancou, mutatis mutandis, o oportuno grito de protesto do filósofo Olavo de Carvalho: “foi preciso que este país decaísse muito para que se pudesse assistir a este triste espetáculo...” Aí se escondem a manipulação de ideias e de processos, que absorve acriticamente uma coletividade dominada pela incerteza, mas enfatuada, incapacitada intelectualmente para a reflexão e o confronto. Nos primeiros anos do Século XXI, passadas apenas três décadas da afirmação de Vianninha, a problemática do Brasil não difere historicamente da do capitalismo internacional como modelo de Estado, alega o citado mestre universitário. É apenas um sócio minoritário e dependente do sistema central, que desempenha um papel “hegemônico” no processo (Florestan Fernandes). Finalizando estas considerações acerca da imprensa, recorro ao irretocável argumento do jornalista Sérgio Halimi através do Financial Times: “Se o fim dos regimes policiais na Europa oriental e o desmoronamento dos dogmas referentes à natureza humana que lhes eram atribuídos nos ensinaram alguma coisa, não foi a necessidade de outro totalitarismo e outra tirania – a dos mercados financeiros. Foi o valor da dúvida e a necessidade urgente da dissidência.” (E as suas reflexões que seguem, aplicadas ao jornalismo e à mídia esclarecem. http://l.facebook.com/l/tAQFDIl7kAQE_Mocr2G_pDBAl6Ri_VJo0UrEVtplks2RuGA/resenha.com.br/esp2991208.htm). “Se aceitarmos a legitimação adulatória de uma nova ditadura, a política não será mais do que o palco de um pseudo debate entre partidos, que exageram a dimensão de pequenas diferenças para melhor dissimular a enormidade das submissões e proibições que os unem... Neste mundo globalizado e totalitário, poderemos ainda, os jornalistas e intelectuais, ser o contrapoder, a voz dos sem voz? Reconfortar os que vivem no conforto? Como fazer isso quando, alguns de nós, já pertencem à classe dominante?” Esta é a grande indagação. Quanto a especulações de natureza religiosa, direi como escreveu Herberto Sales: “Não tenho em mim encontrado forças para trocar por outra a minha religião”. E eu acrescento: católica, apostólica, romana, embora sem presença nos atos cerimoniais e orações. Não conheço outras, quando muito, raras seitas na perorações de evangélicos espertos, e blá-blá-blá teosófico de fundamentalistas pentecostais ou autistas desorientados. Sousa, agosto de 2007 EILZO MATOS"


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