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  • A emboscade de Evanro Nóbrega

    28/12/2014

      I Escondido detrás do pau ou da pedra, me esperando, invisível a figura, mas guardando a intenção preclusiva ele deu o bote fatal, no estilo patins do majó migué. “PREZZADO ammiggo Eilzo Nogueira Matos: Acabo de lhe enviar um e-mail para sua conta do Yahoo...” Tinha de ser assim, parafusado, helicoidal. Preso e solto, imóvel e girante. Impossível reagir, parei ali ofegante, estonteado. Desapareceu-me o tino, o siso, o juízo. Entreguei-me vencido. Pois, na verdade, se tudo o que tenho feito na vida ociosa é criar e enfrentar desafios, espero sempre, des-cuidadamente, estes acontecimentos, que são frequentes. Então lá vai. Arrisco-me de inicio, enfrentar um protesto, como indiciado-réu num processo judicial, ou uma insinuação insidiosa, porque encontro no negro Thomas Sowell (EUA), a forma mais recente de conhecer e interpretar os fatos e os mitos da sociedade dos homens, e por esta circunstância, preconce-bidamente racial, não nego, boto um pé atrás. Ele me entrega Evandro, de bandeja nas 510 páginas de “OS INTELECTUAIS E A SOCIEDADE”, tradução, Realizações Editora, São Paulo, Coleção Abertura Cultural. Confiram. Nele encontro uma explicação para o eruditismo, diria melhor a erudição dos Dante, Cervantes, Evandro Nóbrega, José Ronald Farias, Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Wilson Martins e companhia, que antecedem o arquivo-Google, a inernet, no registro em bico de pena e na memorização da suma do conhecimento humano. Chega a parecer, eixo-personagem, fan-tástico, o recurso que executa tal procedimento. O mais não passa de crendices fundadas na teosofia cristã, jesuítica no caso, dos colonizados. Como nos castelos medievais, as casas grandes do Nordeste deviam ter o seu preceptor residente, para educação da família do senhor, no caso um sacerdote católico, um padre. Expressão da vida e da resistência, da conservação pretendida por todos dos seus heróis, das suas histórias que serão as verdadeiras porque vieram de lembranças que não se apagam, jamais desaparecem e renascem quando a mente necessita de in-teligência e sucessos que são de imediato entendidos, não admitem refigurações, porque então seria outra coisa com o acréscimo do detalhe que o explicaria e o distinguiria. Não existem matrizes antropológicas, sociais, mas fenômenos carac-terísticos mais observados, como representativos na estética que sintetiza padrões. Não se trata da história, mas da poesia como conceitua e conclui Aristótoles nas revelações de fatos do homem e da vida. Enfim, algo arle-quinal como imagina e descobre Mario de Andrade e exprime como itinerário laboral-social do tipo, do modelo, da personalidade. O desenvolvimento o devir, não simplesmente o porvir, insinua-se, mostra-se essencialmente filosófica, aristotelicamente explicativa, podemos dizer. Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Nenhum poema em todas as nações, acredito que conceitua e con-sagra a saudade da infância como feliz fase da vida individual, em todas as literaturas, igual a estes versos. Variações de linguagem, linguística, nomenclaturas. “Caramuru! Cara-muru!” O temível filho do trovão, é expressão de um grito que recolhe e confirma toda uma história de crenças e memórias, envolvendo propriamente o risco fatal de vida e morte, o combate, a batalha da nação, o nascimento e origem da endogamia, no nosso caso brasileiro. Por estas razões que tais, vem de muito este medo real e resistência ao diálogo e troca de opiniões com Evandro, que me assalta. Não quero, nem adianta discutir ou comentar sobre o que ele fala ou escreve, dado o meu fraco banco de reflexões e estofo intelectual. Conheço-o de longa data, do tempo de Betinha de Eládio Melo, o intelectual francófilo da minha terra, minha conterrânea, sua primeira esposa. Por isso esclareço: insisto, mas no meu padrão, e não desisto. Nada de erudição, somente o raciocínio sertanejo revidando de tocaia, nos lances variados da vida: o inverno e a seca, o sol e a chuva, o lajeiro e o chão de terra, a mata, a capoeira grossa e a capoeira fina, a caranguejeira, o lacrau, a cascavel e a jararaca, para sobreviver. As abelhas, o maribondo caboclo, então, um perigo real. As mansas de melhor mel, as jandairas, desapareceram. Muita vida mais experiência. Agora a fala ancestral do judicioso matuto sertanejo lido e conhecido: “ - Evandro é profundo! “ Tinha de ser, e o que tem de ser tem muita força. A propósito, tratei de passagem, dias atrás, da ecdótica e do poeta Augusto dos Anjos - este para mim a expressão lírica, trágica e cultural mais representativa nos dois hemisférios do nosso planeta -, como assinalei; e referências impressionantes, inseridas, e posso dizer, constitutivas do teor, do valor de sua obra poética o mostra. Eis que sou chamado de volta, provocado e convocado pelo insuperável citado Evandro Nóbrega - inevitavelmente e com certeza cooptado, abduzido pelo saber do traiçoeiro Merlin da Várzea do Paraíba, o Conde Alexandre -, para falar sobre o vulto Parfeno que arrancou os olhos de um vivente, mito ou lenda, um Deus certamente. Evandro voa alto como o urubu, diferente do voo rasteiro da juriti por dentro das moitas, mas sabe mergulhar rasteiro, igualmente, para colher o sustento de suas teses. A sua curiosidade mostra-se inesgotável. E pessoalmente ele decifra e revela-se nele mesmo. Sobre o Conde Alexandre, trata-se de personagem e autor da mais extraordinária e maravilhosa crônica dos nossos arroubos e quebrantos exis--tenciais, - um Quaderna especial - transformado em livro genial, que nada deve à Pedra do Reino, de Ariano, em fatos, conjuminâncis e prosápia, genealogia e heráldica, malandragens estafermianas, espertas da Lapa carioca. Eventos e acontecimentos super espantosos presenciados por mim, de que dou testemunho, como estimulantes, no campo do incriado e maravilhoso, que foi a súbita e insólita aparição da Nave de Ezequiel, do Pavão Misterioso, desta figura nebulosa porém real do performático jogral e feiticeiro, em Pernambuco e na Paraíba, nos anos Cinquenta/Sessenta do século passado, dominando o cenário em procelas e desaparecimentos esquisitos, recolhimentos, súbitos e frequentes no mesmo nível do Conde Alexandre. Nobre de fraque e casaca, capa negra esvoaçante, cartola, levando ao delírio a nobreza dos engenhos e das usinas paraibanas, pernambucanas e sabe maias por este Brasil afora. Os homens se embebedavam, as mulheres deliravam mostrando partes íntimas decretadas pela moda. O misterioso tem de se cercar dessas conjuminâncias, repito. E a vida tem muitos mistérios, alguns indecifrados. Todos sabem de Antonio Con-selheiro, do Padre Cícero, de Brancaleone, dos samurais, de irmãos siameses, de Drácula, de Mefistófeles, e superando todos, assim também do Conde Alexandre. Agora para embasbacar mesmo, entre as bilionésimas, quem sabe muito mais leituras e recitações dos versos do Poeta do Eu, que guardam a sua biografia, a sua sabedoria e as suas fontes (também dele Evandro), arranca um verso: "Senti o assombro que sentiu Parfeno,/ quando arrancou os olhos de Dionisos"... Imaginava tudo explicado. Ledo engano, restava o Parphéno de Evandro. Chegaremos a ele, o decifraremos? Sim e a ama de leite guilhermina (continua)"


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