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  • Parece, mas não é

    02/08/2014

     Carlinhos Beauty é, na expressão mais sofisticada, um famoso coiffer de Brasília. Quando, na infância, morava em Sousa, vendia os pastéis de Dodora na rua com grande desenvoltura e se chamava Chico Chagas. 

    Mas foi aqui na Capital da República que o sousense adotou o novo nome e descobriu a profissão que exerce hoje com brilho, glamour e admirável talento. Ele é o que os americanos chamam de self-made man.

    Chegou a Brasília lá pelos anos de 1970 e através do então deputado federal Antônio Mariz conseguiu uma colocação na área de serviços gerais da Câmara. Nas horas vagas, fez o curso de cabeleireiro por correspondência, descoberto casualmente na revista Contigo, e tornou-se o profissional de sucesso que é hoje.

    Depois de perder a eleição de governador em 1982, Mariz fora nomeado Diretor do BNH e fixara residência no Rio de Janeiro. Carlinhos considerava Mariz um verdadeiro pai e privava da intimidade da família do falecido político paraibano. No carnaval de 1983, Carlinhos se manda para a capital carioca para participar do Gala Gay, famoso baile carnavalesco da Cidade Maravilhosa. Do aeroporto, vai direto para o BNH e segue com Mariz para o apartamento.

    A família (Mabel, Adriana e Luciana) já tinha ido para João Pessoa e Mariz viajaria no dia seguinte. Os dois chegaram ao prédio, subiram juntos no elevador e enquanto o dono da casa assistia o noticiário pela TV, o hóspede se produzia para ir ao tradicional baile. E eis que Carlinhos surge na sala fantasiado de...baiana! Despedem-se e a “baiana” segue pelas ruas do Rio com destino ao baile gay.

    Mariz ficou refletindo sobre aquela cena e veio aquele estalo: “o que o porteiro do prédio vai pensar de mim? Subo aqui no apartamento com um sujeito, que depois desce vestindo roupa de mulher! Será que ele vai pensar que sou...?” Ele vai ao hall do prédio, puxa conversa com o funcionário, arrodeia o mundo todo, até explicar em detalhes quem era aquele hóspede, de sua origem sousense e da relação de amizade que tinha com sua família.

    Antônio Mariz me contou essa história dando boas gargalhadas. Quando perguntei se o porteiro tinha acreditado nas explicações dele, respondeu com aquela voz grave: sem dúvida, sem dúvida.


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