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  • Além do castigo

    03/03/2014

     Logo nos primeiros dias após assumir o cargo de Secretário da Justiça (1991), acertei com a equipe várias visitas aos estabelecimentos penais do Estado. E chegou a vez do Bom Pastor, presídio feminino da Capital. Percorri todos os espaços físicos do ambiente e recolhi de inúmeras internas reivindicações e queixas. Uma delas era a falta de espaço decente para elas receberem os maridos, namorados ou companheiros para “encontros íntimos.” 

    Determinei à diretora, que se chamava Vitória (sousense, por sinal) que reservasse uns ambientes decentes para que as apenadas pudessem desfrutar desse convívio íntimo. Ordem dada, ordem cumprida e com desvelo: higiene absoluta, cama impecável e camisinhas. Em tom de deboche, o jornalista Luiz Otávio (Correio Debate) espalhou na época que eu havia criado um motel no Bom Pastor. Nem liguei.

    Não lembro o nome, mas vamos chamá-la de Socorro. Na visita seguinte, com tudo funcionando, ela me chamou num canto e disse justamente o que eu pensava: a perda da liberdade já era castigo suficiente para uma apenada. Ser privada dos poucos direitos a elas deferidos, no entanto, significava a aplicação de uma pena que transbordava o castigo imposto pela lei. O drama dela era não ter alguém com quem pudesse manter relações sexuais. E me fez um pedido pra lá de incomum:

    - Peço ao senhor para me arranjar um homem, nem que seja um preso do Róger (presídio masculino).

    Aí já era demais. Socorro queria que eu fosse seu cafetão. Disse-lhe que não podia ajudar nessa matéria. Resignada, disse que queria assim mesmo frequentar os novos quartos. Sozinha.


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