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Aborto vivo
23/02/2014
Já recebi de eleitores pedidos os mais inusitados. Vou contar um deles. Na campanha de 1994, uma amiga e eleitora queria falar comigo com urgência e em caráter reservadíssimo. Agendei o encontro e ela, trêmula e chorando, revelou o drama que estava vivendo: engravidara de um homem casado e se seu pai, ultraconservador, soubesse ia ser um Deus nos acuda. Queria, pois, que eu pagasse o aborto.
Fiquei dividido entre o desejo da amiga, o voto da eleitora e a minha consciência. Decidi, afinal, que não atenderia seu pedido. “É melhor enfrentar o preconceito do que sucumbir à fraqueza”, disse-lhe francamente. “Conte comigo para pagar o parto”, acrescentei. Decepcionada, ela ficou furiosa e rompeu comigo.
No final do ano passado, eu estava em João Pessoa e encontrei um amigo nosso em comum. Perguntei por ela. Estava bem, morando na mesma cidade e trabalhando no hospital. E veja que surpresa agradável: o filho da minha amiga, agora com 18 anos, havia passado no vestibular de medicina. Era o ex-aborto. Vivo.
P.S.: soube também que ela jamais deixou de votar em mim naquela eleição e nas seguintes.
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