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  • Uma secretária turnbinada

    12/02/2014

     Ela era diferente em tudo. Bebia mais que a família Leitão inteira, não soltava o cigarro nem tomando banho, parecia ter a rapidez de um trem-bala e nunca soube o que era preguiça. E ainda por cima tinha um belo tempero. Seu feijão, por exemplo, podia ser consumido solitariamente.
    Assim era Neta, nossa inseparável empregada por quase 20 anos, somando o tempo de João Pessoa e Brasília. Ela sabia que o meu whisky era sempre o Johnnie Walker Red (8 anos, R$70,00). Certo dia combinei com Aíla de receber uns amigos para almoçar conosco. Um momento adequado para servir aos convidados ilustres o Johnnie Walker Blue (envelhecido 60 anos, mais de R$400,00) que eu havia ganhado de um amigo há algum tempo.
    Todos à mesa e lá venho eu envergando o nobre malt para abrir o apetite dos comensais. Ao despejar a primeira dose no copo, vi logo que o whisky estava quase branco. Pensei que estava estragado, claro. Não estava. Descobriria em seguida que Neta havia consumido o precioso líquido e completara a garrafa com água.
    Aíla foi tomar satisfação com nossa secretária e ela deu uma explicação lógica: 
    - Como dr. Inaldo só gosta do whisky vermelho, eu tomei o azul, que estava aí há muito tempo e deve ser mais barato.
    O jornalista Hélder Moura tomou conhecimento do fato e o publicou no espaço da coluna reservado ao folclore político. Na manhã seguinte, Neta estava com as malas prontas para ir embora, toda emburrada. Ela soubera por uma amiga que seu nome havia saído no jornal, como se fosse uma ladra.
    Foi difícil convencer Neta de que aquela coluna era política – não policial. Felizmente ela desistiu de ir embora e ficou conosco por mais uns 10 anos. Tomando todas. Não por acaso, uma de suas músicas prediletas aqui em Brasília era “Beber, Cair e Levantar”.


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