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  • Mariz, Afonso e as bombas

    21/03/2015

     Nas eleições municipais de 1988, Sousa estava diante de duas escolhas para prefeito e vice: João Estrela e Ricardo Augusto, pelo PMDB; e Gilberto Sarmento e Chico de Clota, pelo PFL. Entre os inúmeros candidatos a vereador, o que fazia mais barulho era Afonso Marques, filho mais novo do saudoso Zuca Teodoro.

    Quando era anunciado no palanque para falar, Afonso mandava acionar no sistema de som uma animada música da Xuxa (adaptação de Ilariê), que fazia a galera cantar e dançar. Ele soube que Antônio Mariz, então deputado federal, gostava muito de fogos.

    Eu, Tico Coura e Dedé Job éramos os principais responsáveis pela logística, estratégia e programação da campanha. Aproveitamos uma passagem de Mariz pela região e acertamos com ele uma participação no comício do Conjunto André Gadelha.

    Palanque armado (um ônibus que Tico transformara em palanque móvel, conhecido como o Carro da Maçã), oradores perfilados e o bairro em peso no comício. A presença de Mariz é anunciada e provoca grande euforia. Afonso força a barra e nos convence a falar no momento da chegada do líder maior, o que era um privilégio.

    Afonso tinha contratado dois sujeitos para soltar uma quantidade enorme de pistolas e bombas, justamente para agradar a Mariz. O que ninguém sabia era que os camaradas estavam completamente embriagados. Um deles acendeu o pavio de uma bomba em conexão com as outras, enquanto o outro direcionou várias pistolas para a multidão. Com isso, várias bombas explodiram ao mesmo tempo no palanque e o fogo das pistolas seguiu na direção da plateia, provocando uma debandada geral. O comício praticamente acabou. Ficaram só uns gatos pingados.

    Conversamos com Afonso para “demitir” os dois bêbados (pelo menos dessa função) e esquecer fogos. Ele concordou com a primeira sugestão, mas em relação aos fogos não abriria mão: “Eu mesmo vou soltar os meus fogos, não se preocupem com isso.”

    Concordamos. No próximo comício, no Jardim Brasília, a trapalhada se repetiu. Desta vez quem tinha tomado todas era o próprio candidato, no papel de fogueteiro. O espocar dos fogos em bloco quase provoca uma tragédia no palanque e na plateia, deixando algumas pessoas com queimaduras leves. Aí baixamos uma ordem: só quem solta fogos nos comícios é o fogueteiro oficial. E dissemos a Afonso, em tom de brincadeira: - Se você quiser soltar fogos, que o faça no palanque do adversário.

    Alguns dias depois nos chegou a notícia de que no palanque de Gilberto e Chico bombas e foguetes tinha acabado o comício deles, provocando pânico geral. Alguém teria copiado o modus operandi de Afonso na arte de soltar fogos? Ou então...

    Bem, eu, Dedé e Tico nos olhamos e dissemos ao mesmo tempo: só pode ter sido Afonso!!! Ou os dois bêbados. Não se sabe até hoje.

    P.S.: João e Ricardo venceram Gilberto e Chico por uma diferença de 2.138 votos. O bombado Afonso se elegeu vereador.


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