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  • Sousense, profissão: delegado

    05/03/2015

     A notícia se espalhou com a velocidade da luz – de que eu era o novo Delegado do Ministério da Educação e do Desporto na Paraíba. Nomeações de pessoas para cargos públicos repercutem mais na mídia do que assuntos realmente relevantes. Jornais, rádios e emissoras de TV elevam esse tipo de notícia à categoria de manchete.

    Porém, um popular sousense e meu amigo que tomava todas em tempo integral não entendeu bem qual era o meu novo papel. Respondia pela alcunha de Chico Elefante. Ouviu na rádio que eu era delegado federal e logo pensou que era da Polícia. E saiu de bar nem bar propagandeando:
    - Quem, menino? Quer dizer que o homem agora é delegado da polícia federal e é meu amigo do peito. É o fraco!

    Tanto repetiu essa sua versão pelos quatro cantos da cidade que os demais colegas de mesa de bar seguiram na mesma linha de raciocínio. Todos se sentindo imunizados contra eventuais prisões ou reprimendas da polícia civil. “Quero ver quem é que me prende agora”, bradavam todos entre um gole e outro de pinga. Muitos já anunciavam que conseguiriam um porte de arma federal comigo.

    Alguns dias depois da posse no novo cargo, fui visitar Sousa e rever os familiares e amigos. Cumprida a agenda, fui tomar uma no bar de Chico Saquinho com alguns companheiros. Logo fui cercado por vários bêbados que me cumprimentavam exageradamente pelo novo posto e davam os efusivos parabéns. Fiquei desconfiado. Como um cargo na área da educação poderia despertar tanto interesse em pessoas com esse perfil?

    Algo estava fora do lugar. E estava mesmo.

    Logo chegou um sujeito com a notícia de que o meu amigo a que me reportei lá em cima estava preso e pedia para ir soltá-lo. 
    - Mas o que foi que ele fez? – indaguei.
    - Nada demais, doutor. Só disse ao delegado que era seu amigo e que o senhor agora era policial federal.

    Liguei para o delegado, que deu a versão mais completa. Disse que o bêbado chegou à calçada da Delegacia, deu uma esculhambação pública na polícia civil e desafiou o delegado a prendê-lo. Já tinha várias entradas no xadrez por excesso de embriaguez, mas disse que “a partir de hoje ninguém me prende mais, pois sou amigo do delegado federal Inaldo Leitão.”

    Como não tinha cometido nenhum crime, convenci o delegado a me entregar o bêbado e me responsabilizei de levá-lo para casa. Antes disso, ele sentou-se à mesa comigo e desabafou: “pensei que o senhor era um delegado que prendia e soltava, mas esse tal de delegado do MEC nem sei pra que serve.”

    Perdi meu prestígio com esse bêbado – e os outros perderam a euforia anteriormente demonstrada. Como se eu tivesse sido “rebaixado”.


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