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  • Pobre Paraíba e seu Calvário

    30/06/2019

    ‘‘E, quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, 
    e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.’’       (Lucas 23:33)

    Que o Brasil foi assaltado, esbulhado, espoliado em muitos bilhões de reais nos últimos anos, é uma verdade já provada e comprovada por todas as ações da Operação Lava Jato que levou uma centena de graúdos e engravatados facínoras para trás das grades.
     
    Que os Estados brasileiros, sem exceção, também estão entregues à sanha criminosa de gestores desonestos que se fartam com o suado dinheiro dos contribuintes também é uma duríssima e indesmentível realidade, todos os dias estampada em manchetes policiais.
     
    Na eleição passada, dos 198 candidatos na disputa pelos governos estaduais, ao menos 47 respondiam a processos na Justiça por corrupção, peculato ou improbidade. Muitos deles foram eleitos.
     
    O caso do Rio de Janeiro é um cristalino espelho do que se passa no submundo da gestão pública em todos os estados do Brasil.: são 4 ex-governadores presos por corrupção. Dezenas de deputados estaduais. Conselheiros do Tribunal de Contas. Membros do Judiciário. Todos envolvidos numa espessa malha de crimes, que vão de roubo aos cofres públicos, passando pelo narcotráfico, contrabando e assassinatos.
     
    Aqui na Paraíba, nos últimos 12 anos, esse conúbio delitivo também envolve, notoriamente, os três poderes no Estado.
     
    Por essa razão, os delinquentes gozaram e ainda gozam da mais ampla impunidade e consequente liberdade para empreender seus delitos. Seja na esfera judicial, seja no âmbito dos órgãos de fiscalização, as irregularidades se repetem e se acumulam. Os processos descansam nas prateleiras, tomados pelo mofo do descaso, da incúria e da conivência.
     
    Essa realidade promíscua sofreu forte abalo com a iniciativa do Gaeco do Rio de Janeiro, que investiu contra uma quadrilha instalada na Cruz Vermelha Brasileira, uma Organização Social que atua em quase todos os Estados do País, especialmente na área da saúde.
     
    Parte dessa OS, dominada pelo bandido Leandro Nunes, foi desbaratada, com a prisão dos principais mafiosos, acusados de roubar algo em torno de R$ 1 bilhão e 100 milhões da saúde pública em 4 estados.
     
    Graças a essa ação eficaz do Gaeco e Ministério Público cariocas, chegou-se aqui na Paraiba ao núcleo da Organização Criminosa Local, integrada por secretários estaduais e assessores de confiança do grupo político detentor do poder nos últimos 8 anos.
     
    Buscas, apreensões e prisões atingiram os 3 principais secretários estaduais, responsáveis pela condução da saúde estadual, da administração e da área jurídica do Governo (Procurador Gilberto Carneiro, Secretário da Saúde Waldson de Souza e Secretária de Administração Livânia Farias), além de 2 assessores de confiança flagrados em operações envolvendo dinheiro oriundo da roubalheira da Cruz Vermelha.
     
    Ocorre que, após as prisões e possíveis delações, o marasmo parece ter tomado conta do Gaeco local e demais autoridades envolvidas nas investigações da Operação Calvário.
     
    A principal presa, toda-poderosa secretária do esquema, foi libertada.
     
    O TCE, após anos de silêncio, aprovando contas do governo e, consequentemente da Cruz Vermelha, passou a emitir todo tipo de alerta, avaliações negativas, atribuição de débitos, comprovação de desvios milionários tanto na CV como em outras OS em ação o Estado.
     
    Apesar de todas as evidências, indícios, provas e testemunhos indicando o roubo de mais de R$ 1 Bilhão da saúde na Paraíba, a Operação Calvário parece ter entrado em estado de inércia, calmaria, deixando a Organização Criminosa tomar fôlego, destruir provas, construir narrativas para fugir do castigo da lei.
     
    A população, já descrente da Justiça e das autoridades encarregadas de fiscalizar, investigar e, principalmente, ministrar as penas aos que descumprem a Lei, expressa sua desilusão diante da continuidade escrachada da impunidade.
     
    Os chefões da Oganização Criminosa aproveitam tempo e dinheiro roubado em quantidade, para processar e perseguir aqueles que insistem em denunciar a roubalheira.
     
    E o esquema continua a funcionar. O vinho escorre e profusão, irrigando bolsos de legião de advogados, testemunhas, aliados e seguidores. Os chefões prometem não soltar a mão de ninguém.

    E o povão continua seu calvário. Sem Gaeco. Sem Ministério Público. Sem Justiça. 


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