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  • Adeus, junho!

    03/04/2020

    Foi sufocado pela falta de ar, enforcado na decisão política e econômica que a força do novo Coronavírus instituiu por aqui e alhures...

    Não teve sequer direito a sepultamento sete palmos abaixo da terra, como se faz por essas bandas com qualquer Júnior do Beco do Califon, da Cachoeira, do Zepa ou do Pedregal.

    Junho não foi cremado naquele ritual divinamente esplêndido que o pessoal do cemitério de Arimatéia Rocha prepara, ao som de harpa e violino, para defuntos da elite.

    E os santos dele - os do mês junino - nem lembrados ou convidados para o velório foram.

    Santo Antonio livrou-se de casar balzaquianas; São Pedro, ocupado na tarefa de encher o açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), aliviou-se do fardo dessas anuais cobranças que lhe endereçam os miseráveis da seca no Sertão.

    Menos mal!

    Junho morreu sozinho, sem que o povo da terra d’O Maior São João do Mundo pudesse ouvir-lhe o último ‘ai’.

    Lá na UTI dos gravetos em que foi jogado o fogo lhe consumiu as entranhas e a história.

    E assim ficou fácil juntar seus restos – as cinzas onde outrora o milho assava em suas crepitantes fogueiras.

    Sem Junho Campina Grande perde gigante parte do seu brilho, da sua representatividade nacional.

    Fica cotó perante o trade turístico global...

    Pamonhas e canjicas, milho cozido ou assado, xerém e munguzá, cuscuz de milho e jerimum com leite, cadê tanta esperada fartura?

    E nem a bacia de quentão na beira da fogueira tem mais este ano...

    Junho fez voar com suas cinzas meu ‘peido de véia’, as cobrinhas e buscapés, os traques da meninada e os chuveiros prateados.

    Balão, nem pensar. Muito menos dançar forró no pé da serra nem quadrilha de anarriê.

    É triste, é mal, é difícil viver sem Junho.

    É essa orfandade tirana que a gente vai lembrar pro resto das nossas vidas.

    Com choro e sem velas, porque nada de Junho nos restou, a não ser isso mesmo: saudade! 

    Segue sozinho, Junho amado, que nós vamos ficando por aqui entrincheirados sob as saias e as camas da cidade tentando escapar desse ‘bixim’ com nome de cerveja importada que à jato tenta acabar com a raça humana.

    Vade retro, Coronavírus!!!
     


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