Página inicial


  • 1989 E 2018: Nem o tempo afasta as semelhanças

    26/11/2017

     As eleições de 2018 guardam uma certa semelhança com as eleições presidenciais de 1989. Tínhamos e temos um País esfacelado. Naquela época, o esfacelamento era fruto da fragilidade econômica do País, que vivia índices assustadores de inflação, arrasando o poder aquisitivo da população, inibindo o fomento ao empreendedorismo e induzindo quem tivesse um pouco mais de dinheiro a preferir fazer investimentos no mercado financeiro (havia muitas aplicações cujos nomes as pessoas sabiam de cor naquele tempo) a investi-lo em qualquer negócio ou canalizá-lo para a geração de emprego e renda. Hoje, o esfacelamento advém do desmonte moral da atividade política, do esgotamento do modelo de sistema político-partidário adotado pelo País, da crise de legitimidade dos agentes políticos e da sangria desatada de recursos públicos em razão da corrupção endêmica que, feito uma metáfase, debilita o corpanzil paquidérmico do Estado Brasileiro.

     

    Em 1989, a despeito de uma imensa variedade de postulantes, a disputa polarizou entre os dois extremos: Lula e Collor. E olhe que tínhamos nomes induvidosamente representativos, como Ulisses Guimarães (talvez, o brasileiro mais respeitado da época, o anticandidato da época da Ditadura, o Senhor Diretas, o homem da Constituição, que não chegou a ter 1,5% da simpatia do eleitorado nacional. É bom lembrar que o estreante Enéas obteve mais votos do que Dr Ulisses naquele pleito), Brizola (e toda a sua bagagem histórica e vinculação afetiva e familiar a Jango), Mário Covas, Fernando Gabeira, Paulo Maluf, Aureliano Chaves, Afif Domingos, Ronaldo Caiado, Afonso Camargo, o nosso líder Roberto Freire e mais uma miríade de candidatos.

    Apesar dessa diversidade de alternativas, os dois polos antagônicos concentraram em si próprios a disputa pelo Planalto. De um lado, Lula representando a esquerda radical; de outro, Collor vestindo o figurino da extrema direita.

    Não estou a dizer que Lula e Collor, do ponto de vista teórico e ideológico, são, respectivamente, a extrema esquerda e a extrema direita, mas, naquele pleito, representavam esses segmentos.

    Hoje, assim como naquela eleição solteira de 89, temos vários nomes respeitados que são especulados como aspirantes ao cargo de Presidente da República: Geraldo Alckmin, Ronaldo Caiado, Ciro Gomes, João Amoedo, Michel Temer, Henrique Meireles, Marina Silva, Paulo Rabello Castro, Manuela D’Ávila e o nosso grande Senador Cristovam Buarque.

    As pesquisas, contudo, apontam para uma nova polarização dos extremos, sufocando, assim, honrados brasileiros que pretendem chegar ao Planalto. De um lado, temos, de novo, Lula representando a extrema esquerda; na outra ponta, Bolsonaro representando a extrema direita, mesmo que não seja um liberal por formação.

    Em 89, o País escolheu o caçador de marajás; em 2018, pode escolher o caçador de bandidos. Em 89, a maioria ficou com o Messiânico Collor; em 2018, pode ficar com o Mito Bolsonaro.

    Impressiona como o Lula de 2018 recrudesceu o Lula de 1989, deixando de lado o figurino “paz e amor”. De igual modo, é chocante constatar as afinidades de Fernando Collor e Jair Bolsonaro nos gestos bruscos, nos punhos cerrados, nas feições ruborizadas de raiva, nas palavras de ordem, nas figuras de linguagem, na necessidade midiática de demonstração de força e de poder, na defesa de um Estado policialesco, na limitação das garantias individuais e das liberdades democráticas, no culto ao personalismo, na disseminação de valores ultrapassados, na construção de uma aura “messiânica e mitológica” em torno do próprio “eu”, enfim, num certo narcisismo que não lhe permite enxergar beleza fora do reflexo de seu espelho.

    Lá em 1989, como forma de combater o populismo de esquerda e o populismo de direita, pensaram em utilizar o mesmo princípio ativo para catapultar uma candidatura: o populismo. Mas, ao invés de um populismo de esquerda ou de direta, esse grupo pensou no que se convencionou chamar de “populismo de centro” para conter os extremos e projetar um nome menos radical. Foi assim que surgiu a candidatura do empresário e apresentador Silvio Santos, que nasceu como alternativa do “populismo de centro” para fazer face às candidaturas populistas dos extremos.

    Silvio Santos entrou na campanha com um enorme delay, exatamente no meio da disputa. Tentou-se, inicialmente, a desistência de Aureliano Chaves para que Silvio ocupasse o seu lugar, já que era filiado ao PFL. Aureliano topou desistir, chegou a anunciar a sua renúncia, mas, em seguida, influenciado por caciques do partido, em especial Antônio Carlos Magalhães, “desrenunciou” (perdão pelo neologismo).

    Diante da “desrenúncia” de Aureliano Chaves, o grupo que apoiava Silvio Santos conseguiu a sua vaga pelo PMB. O PMB tinha um pastor como candidato a Presidente da República, que cedeu a sua vaga para Silvio. Mesmo saindo do pit stop, sem ter iniciado a corrida do grid de largada, tal qual os demais concorrentes, Sílvio Santos, como um fenômeno das massas, rapidamente polarizou a eleição com o próprio Collor. Chegou a ultrapassá-lo em dado momento. Brizola, diante daquela espetacular performance de Silvio, chegou a apelar à sociedade, em um debate televisivo, que não deixasse o segundo turno ser disputado entre “o diabo e o capeta”.

    Sílvio, é preciso fazer esse registro, naquele tempo, estava no auge de sua fama e no apogeu de seus negócios. Ele era um dos homens mais ricos do País e era o brasileiro (pessoa física) que mais pagava impostos em nossa Nação. Simbolizava, portanto, a força do trabalho. O homem que nasceu pobre, que começou a trabalhar como camelô e que se tornou dono de uma emissora de TV, além de outras 39 empresas. Para dar um choque em uma Pátria em que, devido à inflação, o investimento em capital especulativo e no mercado financeiro era mais atraente do que abrir um negócio ou investir em produção, a candidatura de Silvio trazia uma simbologia de otimismo muito forte. Sílvio Santos era a marca do Brasil que deu certo mediante a força do trabalho, a disciplina, o planejamento, a organização e a transpiração.

    Ele ensaiou um voo alto, mas foi abatido antes mesmo de decolar. Um complô se formou contra a sua candidatura: ACM e alguns caciques políticos, ao lado das organizações Globo se uniram contra Silvio Santos. Mas quem conseguiu inviabilizar a sua candidatura foi, nada mais, nada menos, do que o Eduardo Cunha. Isso mesmo. O jovem Eduardo Cunha pertencia à tropa de choque da campanha de Fernando Collor, tanto que, como compensação de sua valiosa ajuda à campanha de Fernando Collor, ganhou a presidência da Telerj.

    Pois bem, o jovem Cunha entrou num dos jatinhos da campanha de Collor e começou a rodar o País (Estado por Estado da Federação) para se certificar se o PMB (partido de Silvio à época), conforme determinação da legislação da época, havia realizado as 09 convenções estaduais para referendar o nome do candidato à Presidência da República. Ao colher certidões dos TREs de cada Estado, Eduardo Cunha constatou que o PMB só havia feito 04 convenções, de modo que, em razão desse deslize, o TSE impugnou a candidatura de Silvio Santos.

    Hoje, estamos vivendo algo bem semelhante. Lula e Bolsonaro, populistas dos extremos, disparadamente à frente dos demais pré-candidatos. Talvez, o antídoto esteja no próprio princípio ativo do veneno que Lula e Bolsonaro inoculam: o populismo. Mas um “populismo de centro”. E, assim como em 89, esse nome pode vir a partir de um outsider. Luciano Huck pode ou não se encaixar nesse perfil. Da mesma forma que Silvio Santos, Huck, por um carisma incontestável, se comunica diretamente com as massas, penetrando muito bem nas mais diversas camadas da sociedade. A grande diferença entre Silvio e Huck é que Huck nasce respaldado por 02 movimentos políticos bastante interessantes e inovadores: o Renovar e o Agora, que têm capilaridade social e um embasamento político muitíssimo mais consistente do que aquele grupo que lançou Silvio Santos em 1989.

    Não creio ser inteligente para qualquer partido político (o nosso e os demais) ignorar esse paralelo histórico entre 1989 e 2018, rechaçar movimentos tão vanguardistas da política nacional como o Agora e o Renovar, bem como refutar um nome indiscutivelmente forte como Luciano Huck para a Presidência da República.

    Temos um grande quadro? Sim, temos um quadro formidável. Muito mais preparado cultural, intelectual, política, econômica e humanisticamente do que os demais que tiveram os seus nomes lançados. Cristovam é um craque. Um homem público admirado em todo o País. Mas o PPS, sobretudo por ser um partido plural, não pode se dar ao luxo de não acolher a filiação de um nome nacional como Luciano Huck e dos movimentos políticos em que ele está inserido, como o Agora e o Renovar.

    Se a configuração do cenário político de hoje vai permanecer no segundo semestre de 2018, não temos bola de cristal para adivinhar, mas é prudente trabalharmos com essa perspectiva e termos, dentro de nossa legenda, nomes como Huck e Cristovam.

    Poderemos, quem sabe, nos deparar com a mesma sorte que Feola em 1958 e ter que, com alegria e regozijo, quebrar a cabeça pra escolher entre Pelé, Garrincha, Vavá, Dida, Mazzola, Joel, Dino Sani e Zito.

    Que venha 2018 e que o PPS erga a taça da Copa, ou melhor, vista a faixa presidencial!!!

    Bruno Farias é presidente municipal do PPS de João Pessoa e vereador pelo partido na capital


    Voltar