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  • Zé Maranhão, um estadista

    09/02/2021

    Fui soldado, por quase 20 anos, de um dos maiores estadistas que a Paraíba conheceu: José Targino Maranhão.

    Entrincheirado nas fileiras do antigo PMDB, partido que notabilizou e se fortaleceu por sua luta insistente em favor dos valores democráticos, travamos batalhas memoráveis sob o comando de Zé Maranhão, uma liderança política natural, autêntica, sincera e leal, coisa rara nos tempos atuais.

    Mesmo amargando resultados adversos, em algumas circunstâncias, Maranhão sempre caiu de pé; nunca capitulou, esmoreceu ou fraquejou. Era esse combustível que reanimava a tropa e oxigenava o exército para novos enfrentamentos. Um homem firme, de posições coerentes.

    Foi na sucessão de Antônio Mariz, que faleceu com menos de um ano de mandato, que José Maranhão passou no teste popular como gestor, contrariando grupos e oligarquias que se achavam donatários do estado e o governante de plantão um simples serviçal de seus caprichos e interesses mesquinhos.

    Contrariou grupos, mas ganhou aceitação popular. Conquistou o respeito e a simpatia dos pretendentes a escrever uma nova página na história da Paraíba, sem submissão, mas atrelado exclusivamente a um projeto de desenvolvimento econômico, crescimento social e a instituição da moralidade administrativa. Não por menos, foi reeleito com 80 por centro da preferência eleitoral, um recorde até hoje nunca alcançado.

    Nunca se afastou um milímetro sequer dos seus princípios. Sempre foi o mesmo Zé Maranhão que conheci ainda deputado federal, em 1982, fazendo dobradinha eleitoral com meu pai – candidato a deputado estadual na época – em alguns municípios paraibanos. Tranquilo, sereno, atencioso.

    Em 2002, o filho da Serra de Araruna recebeu, mais uma vez, os aplausos do povo nas ruas em forma de votos nas urnas, se elegendo senador com uma votação superior ao governador eleito na época, Cássio Cunha Lima - que derrotou vice-governador Roberto Paulino, numa eleição recheada de mistérios e suspeitas de manipulação das urnas eletrônicas.

    No terceiro mandato como governador, em 2009, após a cassação da reeleição de Cássio Cunha Lima por conduta vedada na campanha de 2006, eu já tinha assumido postos estratégicos no PMDB como Secretário Geral e presidente em exercício do Diretório Municipal, por sua indicação.

    No mês de fevereiro desse mesmo ano fui acordado com um telefonema seu às 3h da madrugada. “Cristiano, estou lhe acordando para dizer que acabei de assinar seu ato para assumir a Diretoria Administrativa do jornal A União. Tá vendo, enquanto você tá dormindo eu estou aqui trabalhando...”. Ele deu uma risada, eu agradeci e fizemos por onde honrar a confiança depositada.

    Zé Maranhão sempre me teve uma atenção especial - acredito que mais em respeito à memória do meu pai e do meu avô materno, Francisco Xavier, agropecuarista do município de Caiçara e Logradouro, também expoente político da mesma região e amigo da sua família – que à nossa singela colaboração em campanhas eleitorais. Mas ele dizia, sempre em roda de conversa informal, que eu representava a terceira geração de pessoas que faziam parte da sua trajetória, da sua história.

    O ano de 2009, porém, não terminou como se iniciou, pelo menos para mim. Meu chão desabou quando soube que minha filha Monique, com apenas 23 anos de idade, foi diagnosticada com um câncer de parótida. Estávamos tentando organizar as coisas para saber os procedimentos iniciais com o oncologista – em São Paulo – quando a desembargadora Fátima Bezerra, primeira dama, encontrava-se na sede de A União em um café da manhã e me chamou para comunicar que estava sabendo do fato e me serenou:

    - Fique tranquilo, Cristiano, que vai dar tudo certo. E você sabe que se precisar de alguma coisa pode procurar seu amigo Zé Maranhão.  

    A cratera que se abrira dias antes no meu solo, se transformara numa avenida pavimentada.

    Travamos uma luta de quase dez anos. Fomos vencidos em março de 2018. Gratidão, apreço, carinho, respeito são os sentimentos que ficam. Até hoje, em sua página de instagram, está registrado o carinho da minha filha Monique a Zé Maranhão, quando da última campanha ao senado, 2014.

    A derrota para o governo em 2010 - para Ricardo Coutinho, que se julgava palmatória do mundo, o Deus da Honestidade, e agora está denunciado em 7 processos por formação de quadrilha e outras estripulias praticadas com seu bando contra o dinheiro público – deixou a todos incrédulos.

    A deformação da chapa majoritária, com a manutenção do PT, foi um erro fatal, somando-se a isso o dinheiro das propinas da prefeitura da Capital que irrigaram a campanha de RC, agora descoberto.

    O último contato que tive com Zé Maranhão foi por celular, por ocasião do velório da minha filha. Ele me ligou para transmitir os votos de pesar.

    Nesses últimos dias estava acompanhando, através de informações de alguns amigos, o seu real estado de saúde em São Paulo. Estava consciente de que só um milagre poderia salvá-lo, mas sem perder as esperanças. Na madrugada desta terça-feira (9) fiquei sabendo do seu falecimento. Perde a Paraíba e o Brasil um dos seus homens públicos mais honrados. Ele deixa uma cadeira vazia no Senado da República. Aos familiares de Zé Maranhão – esposa, filhos e netos - nossas sinceras condolências.  

    Resta-nos aceitar os desígnios de Deus e relembrar momentos inesquecíveis e históricos que compartilhamos ao seu lado. Vai com Deus, Zé! 


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