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  • 20.11.2015 - 05:37

    Vítimas relatam medo e vergonha após abuso


    Bárbara Forte, 
    Do BOL, em São Paulo

    Vítima de uma tentativa de estupro em agosto do ano passado, L.C. permanece com o medo de andar pelo campus da USP (Universidade de São Paulo), na zona oeste da capital paulista. A jovem de 25 anos já registrou quatro queixas na polícia desde que começou a ser ameaçada por um homem na faculdade, mas apenas no último dia 4 de novembro, um ano e meio após o ocorrido, a polícia abriu um inquérito para investigar o caso.


    "Meu primeiro contato com a polícia foi em maio de 2014, quando comecei a receber bilhetes de ameaças. Em agosto do mesmo ano, quando voltei ao carro para buscar meu celular que havia esquecido, fui atacada por um homem que abriu minha calça e tentou me estuprar, no estacionamento da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP). Na ocasião, eu consegui acionar a buzina com o joelho, ele bateu na minha cabeça e conseguiu fugir", revela a estudante ao BOL.

    Depois do ataque, a jovem voltou à polícia mais duas vezes, mas apenas o boletim de ocorrência foi registrado. A demora de mais de um ano para abrir a investigação em casos como o de L.C. é uma postura incorreta das autoridades, segundo avalia Valéria Scarance, coordenadora do Núcleo de Gênero do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e da COPEVID (Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher). "A partir do momento em que há a notícia de um fato criminoso - na circunstância, a tentativa de estupro - o inquérito deve ser instaurado", afirma a especialista.

    A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) confirma o comparecimento da vítima ao 93º Distrito Policial no dia 4 de novembro. No entanto, o órgão não se posiciona quanto à delonga para averiguação dos fatos, afirmando que as investigações seguem sob sigilo, por envolver tentativa de abuso sexual. 

    Denunciar é fundamental, alerta Valéria Scarance. Mas apenas 10% da população que sofre esse tipo de agressão recorre às autoridades, como fez a universitária em questão. Os dados fazem parte de uma pesquisa de 2014 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). De acordo com o levantamento, o Brasil tem uma vítima de abuso a cada 12 segundos. Por ano, o número chega a 527 mil.
     
    Embora haja dezenas de fatores que afugentem as vítimas da delegacia, Valéria garante que a denuncia é a única forma de mudar esta realidade assustadora. "Estima-se que cada agressor faça sete vítimas durante a vida. Tirar um desses criminosos da rua significa poupar o sofrimento de muitas pessoas", explica.