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  • 17.08.2015 - 06:58

    Milhares vão às ruas e pedem saída de Dilma em mais de 20 Estados e no DF


     Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas neste domingo em cidades de mais de 20 Estados brasileiros e do Distrito Federal para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff na terceira manifestação nacional neste ano contra o governo da petista, depois de protestos semelhantes em março e em abril.

    Ainda que o contingente de manifestantes possa ter sido menor do que em protestos anteriores, a marca comum nas várias cidades foi o pedido de saída de Dilma. Até o início da noite, não haviam sido divulgados números oficiais de manifestantes em São Paulo e no Rio de Janeiro, duas das principais cidades do país. Segundo o Datafolha, no entanto, 135 mil pessoas ocuparam a Avenida Paulista, foco o do protesto na capital paulista.

    Na avaliação do Palácio do Planalto, as manifestações ocorreram dentro da normalidade democrática, segundo o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. Além do "Fora Dilma", os protestos em mais de 200 cidades brasileiras também foram marcados por palavras de ordem contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quando governou o país chegou a ter popularidade na casa dos 80 por cento, e a favor do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos relacionados à operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras (PETR4.SA).

    A terceira manifestação nacional contra o governo Dilma neste ano acontece depois de uma semana em que a presidente ganhou fôlego político, com decisões favoráveis a ela no Judiciário e uma reaproximação com o Senado, especialmente o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

    Entretanto, os manifestantes que foram às ruas neste domingo não pareciam dispostos a dar trégua à presidente. Nas principais capitais do país --como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Recife-- destacavam-se enormes faixas verdes e amarelas com os dizeres "Impeachment Já" em preto.

    Dilma, que ficou o fim de semana em Brasília para acompanhar as manifestações, estava reunida no Palácio da Alvorada no início da noite de domingo com ministros para avaliar os protestos.

    Ao contrário das outras duas grandes manifestações nacionais realizadas contra o governo Dilma neste ano, desta vez o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), derrotado por Dilma na eleição presidencial do ano passado, participou diretamente dos protestos. Ele teve seu nome entoado ao chegar e ao sair da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, e chegou a discursar para os manifestantes, criticando o governo.

    "Venho como cidadão indignado com a corrupção, com a mentira, com a incompetência desse governo, que vem fazendo tão mal aos brasileiros", disse o tucano. "Não importa o tamanho da manifestação porque a indignação hoje dos brasileiros é enorme, é até mesmo maior do que depois das eleições. Mas o Brasil é mais forte que tudo isso", acrescentou.

    LULA INFLÁVEL

    Em Brasília, um enorme boneco inflável fazia referência a um Lula vestido de presidiário em meio aos 25 mil manifestantes, estimados pela Polícia Militar.

    Vestidos com camisas da seleção brasileira e de verde e amarelo, os manifestantes aproveitaram o dia de sol em várias cidades do país e, no Rio de Janeiro, tomaram a orla de Copacabana com gritos de "Fora PT" e elogios a Moro.

    "A corrupção no Brasil chegou ao limite do limite, e esse governo desonra os brasileiros dignos", disse o advogado Carlos Andrade, que foi a Copacabana acompanhado da família.

    Em São Paulo, os participantes da manifestação se reuniram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e depois fizeram uma passeata na avenida. Entre os manifestantes na principal avenida da maior cidade do país havia até mesmo um padre, vestido a rigor, de batina.

    A vendedora Maria José Siqueira, de 38 anos, era uma das que pedia a saída de Dilma, mesmo não acreditando que outro governante que a substituísse resolva a situação. "Se o povo continuar insistindo, uma hora ela (Dilma) sai", disse a vendedora, ao lado do namorado, acrescentando que sempre justificou o voto por não acreditar nos políticos.

    Em um contraponto aos protestos anti-PT, militantes do partido e sindicalistas se reuniram em frente à sede do Instituto Lula, na zona sul da cidade, com bandeiras do PT e cartazes de defesa da democracia. "O Brasil precisa de entendimento nacional. Com esse terceiro turno que não acaba nunca, o Brasil não consegue crescer. Vamos virar essa página, gente. Acabar com esse negócio de golpe. As eleições são em 2018, vamos esperar as eleições e cada um vota em quem quiser", disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

    Em evento nesta semana, o sindicalista chegou a falar em "pegar em armas" para defender o mandato da presidente. Neste domingo, ele disse que suas declarações foram distorcidas e que sofreu ameaças por conta do episódio. "Forçaram a barra com isso. Foi uma força de expressão. Nossas armas são a democracia, as paralisações, greve, diálogo, unidade dos trabalhadores", disse.

    Os protestos também aconteceram em capitais como Belém, Maceió, Aracaju, Fortaleza, Florianópolis, Curitiba, Campo Grande e Salvador, além de cidades do interior do país.

    FÔLEGO

    Os protestos pelo impeachment de Dilma acontecem em meio a um certo alívio conseguido pela presidente na última semana. Seu governo se reaproximou de Renan e do Senado, fazendo um contraponto à situação difícil enfrentada na Câmara dos Deputados, cujo presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o governo após ser acusado por um delator da Lava Jato de pedir propina.

    Também colaborou para dar um certo fôlego à gestão petista as decisões do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Judiciário.

    O TCU deu prazo de mais 15 dias para o governo dar explicações sobre suas contas do ano passado, em análise no órgão; do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar que as contas do governo sejam avaliadas em sessão conjunta do Congresso; e do Tribunal

    Superior Eleitoral (TSE), que adiou a decisão sobre a continuidade de um processo que pede a cassação de Dilma.

    Integrantes do governo, políticos e analistas, no entanto, têm adotado postura cautelosa em relação a esse fôlego conseguido por Dilma. Isso por conta da baixa popularidade da presidente, da deterioração da economia e pelas investigações da Lava Jato, apontadas como imprevisíveis e classificadas de "fio desencapado" por um importante parlamentar da base aliada.

    Paralelamente, Dilma tem afirmado em discursos e entrevistas que não renunciará ao cargo e tem ainda pregado o respeito à democracia e ao resultado das eleições.

    (Reportagem adicional de Luciana Otoni e Leonardo Goy, em Brasília; Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Roberto Samora e Raquel Stenzel, em São Paulo; e Patrícia Duarte, em Jundiaí) msn