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  • 18.10.2014 - 15:14

    Lixo do ebola representa desafio aos hospitais


     Michael Wines

    Do The New York Times News Service

    • Jim Young/Reuters

    Quando os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) asseguraram ao público neste mês que a maioria dos hospitais americanos podia tratar de casos de ebola, eles estavam tecnicamente corretos. Os hospitais tratam rotineiramente de doenças altamente contagiosas, e os melhores estão altamente equipados para isolar pacientes que oferecem riscos especiais.

    Mas o contágio na semana passada de duas enfermeiras no Texas mostrou o que mesmo muitos dos melhores hospitais carecem: a habilidade de lidar com o lixo contagioso gerado pelo ebola.

    O quadro catastrófico do ebola inclui diarreia, vômitos e hemorragia de sangue, uma combinação difícil o bastante para conter até mesmo doenças menos contagiosas. Quando são altamente contagiosas, o descarte do lixo e a limpeza do que fica para trás exige perícia e equipamento, o que alguns especialistas dizem faltar até mesmo em instalações médicas conceituadas.

     

    Segundo eles, essas falhas se somam às lacunas surpreendentes no conhecimento dos cientistas sobre o próprio vírus ebola, como o tempo que ele pode sobreviver em ambientes diferentes fora do corpo.

    "O tempo para aprender sobre essas coisas não é quando estamos no meio de uma crise", disse Paul D. Roepe, o codiretor do Centro para Doenças Infecciosas da Universidade de Georgetown, em uma entrevista por telefone. "Esse tempo foi anos atrás. Mesmo com os bilhões gastos na preparação de nossos sistemas de saúde para esse tipo de cenário, nós ainda estamos abertos a erros."

    Um punhado de centros médicos em todo o país, incluindo os da Universidade Emory e da Universidade do Nebraska que trataram os primeiros casos de ebola nos Estados Unidos, está especialmente equipado e seus funcionários estão treinados para tratar dos desafios. Mas eles são exceções.

    A maioria dos hospitais não conta com incineradores ou esterilizadores por vapor, chamados autoclaves, com capacidade para receber grande quantidade de material contagioso. O Texas Health Presbyterian Hospital, uma instalação com 866 leitos em Dallas onde duas enfermeiras adoeceram após tratarem de um paciente com ebola, teve que embalar e despachar tambores de 200 litros de lixo –de fluidos corporais e lençóis a trajes protetores contaminados e uma cama hospitalar inteira– para um incinerador em Port Arthur, Texas.

    O Departamento dos Transportes federal, que regula o transporte de material contagioso, foi forçado a emitir licenças especiais para o transporte do lixo do hospital e do apartamento de uma vítima de ebola, porque as exigências de embalagem da agência não preveem volumes tão grandes de material altamente contagioso.

    Talvez mais importante, disseram alguns especialistas, é a falta de treinamento e prática que os funcionários de hospital precisam para tratar de vítimas de ebola e lidar com segurança com o lixo que produzem.

    Debra Sharpe, uma especialista em biossegurança de Birmingham, Alabama, supervisiona a segurança de um laboratório sem fins lucrativos que pesquisa doenças emergentes e bioarmas, além de dirigir uma empresa que treina funcionários para lidarem com agentes biológicos. Os problemas com lixo contagioso nessas funções equivalem aos no ambiente hospitalar, ela disse em uma entrevista.

    "É totalmente chocante", disse Sharpe. "Eu precisaria de quatro a seis semanas para treinar um funcionário para trabalhar em um laboratório de alto confinamento de forma segura. É absurdo esperar que médicos e enfermeiros aprendam isso em um dia de treinamento."

    "Nada na ciência é novidade. Nada nos componentes de proteção é novo. A única novidade é o ambiente hospitalar. Os hospitais e os CDC deveriam ter contatado a comunidade de biossegurança há tempos, para tentar se ajustar a isso."

    Os CDC contam com diretrizes gerais para lidar com o lixo do ebola e uma página de perguntas e respostas na internet com algumas recomendações altamente inesperadas –por exemplo, que os dejetos corporais contagiosos podem ser descartados pelo vaso sanitário no esgoto público. (Sharpe concordou com isso, mas acrescentou que muitas instalações de tratamento, por precaução, despejam água sanitária no vaso sanitário e aguardam vários minutos antes de dar a descarga.)

    Além das orientações, algumas áreas cinzentas complicam o problema do lixo. Como o ebola é uma doença que causa muita sujeira, os quartos dos pacientes devem ser limpos meticulosamente, para que uma gota de sangue ou respingo de vômito perdido não espalhe o vírus para um paciente ou funcionário desavisado. Mas a própria limpeza é tão perigosa que ela também precisa de treinamento especial, assim como conhecimento de que esterilizadores e aparelhos de limpeza do hospital provavelmente matarão o vírus.

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