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  • 02.08.2017 - 05:19

    Professor da UFCG tem estudo citado pela revista Congresso Em Foco


     O professor José Marciano Monteiro, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), nacionalmente conhecido pelos estudos relacionados ao entrelaçamento da política com o poder familiar, cujo livro de sua autoria editado este ano em São Paulo trata com profundidade o tema como um “negócio de família”, é destaque de longa reportagem hoje publicada pela revista “Congresso em Foco”.

    De acordo com Marciano, não há como compreender o Brasil sem analisar as relações entre família e política. “Não existe a renovação que muitos cientistas políticos apontam no Congresso. Há renovação de agentes que pertencem às mesmas famílias, têm os mesmos hábitos, visão de mundo e práticas dos antecessores. As eleições apenas legitimam esses grupos”, argumenta o cientista.

    O paraibano revela que a concentração do poder político em poucas famílias impõe ao Brasil uma agenda refém de interesses privados, favorece as desigualdades econômicas e sociais e a corrupção. Não por acaso, ressalta, as relações de parentesco costumam aparecer em esquemas de corrupção. Só para ficar no exemplo da ‘Lava Jato’, há casais, pais e filhos, sobrinhos e primos entre os parlamentares investigados.

    O livro de Marciano (“A Política como Negócio de Família: para uma sociologia política das elites e do poder político familiar”) foi lançado em maio durante o VIII Seminário Nacional de Sociologia e Política, na cidade de Curitiba, Paraná.

    O evento diz respeito a um dos mais qualificados espaços de debate acerca de temas que envolvem a produção sociológica e da ciência política no País. Promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), teve a participação dos mais renomados sociólogos da atualidade, a exemplo de Jessé de Souza, que realizou a abertura do evento.

    Além do lançamento, o pesquisador José Marciano Monteiro, também convidado pela UFPR, integrou mesa redonda como um dos palestrantes, ao lado dos pesquisadores Ricardo Costa de Oliveira (UFPR), Antônio David Cattani (UFRGS) e Igor Gastal Grill (UFMA), debatendo o tema “Famílias e Classes Sociais no Brasil”.

    Professor e doutor, José Marciano Monteiro em seu livro propicia uma significativa contribuição à retomada e atualização da tradição de estudos clássicos sobre a relação entre política e poder familiar no Brasil.

    Com um estudo focado na história recente da Paraíba (entre 1985 e 2015), que, como toda a região Nordeste tem com maior destaque a marca histórica da dominação do poder de Estado por famílias tradicionais, o autor evidencia o quanto as redes de parentesco continuam centrais na vida política local, mesmo com o processo da redemocratização do país.

    Por meio da análise das composições entre o capital político-familiar e o capital econômico e cultural, relacionando família, parentesco e constituição das elites políticas no Estado da Paraíba, o estudo, com criativo e consistente lastro na Sociologia de Pierre Bourdieu, é capaz de decifrar os complexos mecanismos que envolvem as novas formas de associação entre o poder local e o nacional e entre grupos familiares tradicionais e as formas modernas de organização do poder estatal, mostrando como Partidos Políticos, Lugares de Memória, o Tribunal de Contas, o Legislativo, o Executivo Estadual, e a Mídia são penetrados pelo domínio material e simbólico de famílias políticas.

    A MATÉRIA DO ‘CONGRESSO EM FOCO’

    Na reportagem da ‘Congresso em Foco’ outro paraibano é destacado: o senador Cássio Cunha Lima, cuja foto ao lado do filho-deputado Pedro, no plenário do Congresso, ilustra o texto.

    Diz a matéria que o Congresso Nacional é palco de escândalos políticos, troca de acusações e agressões verbais, mas é também um ambiente familiar.

    Pelos plenários, corredores e gabinetes, uma bancada expressiva de parlamentares bem poderia chamar de pai, filho, tio, sobrinho, primo ou, até mesmo, de amor aqueles que tratam pelo formal Vossa Excelência. Ao menos 60 deputados e senadores têm familiares no exercício do mandato, na suplência ou licenciados na Câmara e no Senado. Eles estão longe de ser exceção. “De pai para filho, a política brasileira virou um grande negócio de família”, ressalta a revista.

    De acordo com levantamento da revista pelo menos 319 deputados (62%) e 59 senadores (73%) têm laços de sangue com outros políticos. Há parlamentares com sobrenomes associados nacionalmente à política, como Maia, Calheiros, Cunha Lima, Caiado, Barbalho e Magalhães, outros de influência regional e aqueles que inauguraram essa tradição. Os números são tão expressivos que fazem o Brasil superar nesse quesito a Índia e sua conhecida sociedade de castas. Pesquisa publicada em 2011 pelo historiador britânico Patrick French mostra que 28% das cadeiras da Câmara indiana eram ocupadas por deputados com políticos na família.

    CASO A CASO

    No Parlamento brasileiro, a árvore genealógica política é mais enraizada no Nordeste, mas tem ramificações frondosas por todos os estados e partidos representados no Congresso. O papel da família na eleição de cada um desses parlamentares deve ser analisado caso a caso. Há descendentes de ex-senadores, ex-deputados e ex-governadores, assim como familiares de políticos de expressão regional, bem como aqueles que se elegeram conciliando a força do nome com atuação destacada em outras áreas.

    Também há casos de congressistas que, a despeito do parentesco, ou não fizeram uso do sobrenome ou até que são adversários políticos. Existem, ainda, os que desbravaram sozinhos o espaço na política e agora preparam, dentro de casa, seus sucessores. Qualquer que seja a situação, é inegável que o capital político familiar representa uma vantagem em relação aos adversários e um atalho para o sucesso eleitoral.

    Conhecer desde o berço os bastidores do meio é apenas um dos diferenciais. Além do poder político, muitos herdam o poder econômico. São mais ricos ou têm mais facilidade de arrecadar dinheiro para as campanhas eleitorais do que seus concorrentes. Muitos são donos de veículos de comunicação, como rádios e TVs e controlam ainda as principais máquinas partidárias de seus estados.

    CAÇA AO DINHEIRO

    O cientista político Ricardo Costa Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), observa que, em vez de diminuir, a influência do parentesco na política, herança da colonização portuguesa, tem crescido no país, principalmente por causa do encarecimento das campanhas eleitorais.

    “A política é cada vez mais um negócio de família no Brasil. As eleições estão cada vez mais caras. Muitos políticos bem sucedidos têm de organizar e possuir uma estrutura de dinheiro, uma estrutura familiar política para beneficiá-los. Os candidatos mais fortes e com boas condições de elegibilidade concentram mais dinheiro e muitas vezes contam com a família na política. Isso é um fenômeno também de reprodução do poder político”, explica o professor.

    Nesse ciclo vicioso, sobra pouco espaço para renovação de nomes e ideias. “No atual sistema político, só se elege quem é profissional, quem tem muito dinheiro, quem tem muita estrutura. Quem é amador, político novo, só com suas idéias, não consegue se eleger de primeira vez, ressalvadas as exceções. Somos uma república de famílias”, avalia o professor, que estuda o tema há mais de 20 anos. Esse tipo de relação não se restringe ao Congresso e à política.

    TODOS OS PODERES

    Pesquisas coordenadas recentemente por Ricardo Oliveira evidenciam o peso dos laços familiares em outros campos do poder no Brasil: do Executivo federal (17 ministros do presidente Michel Temer são de famílias de políticos) ao municipal (16 dos 26 prefeitos de capitais eleitos em 2016). O modelo também é reproduzido no Judiciário e no Ministério Público. No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, 8 dos 11 ministros têm parentes na área do Direito. Metade dos 14 integrantes da força-tarefa da Lava Jato também tem familiares magistrados e procuradores.

    O professor Marciano conclui no seu livro que os herdeiros, muitas vezes, não possuem nenhuma experiência em cargos públicos ou mesmo em cargos de direção ou comando, número que representa 21 por cento dos 513 deputados federais eleitos.

    Fonte: A Palavra online