Página inicial


  • Instantes de amizade

    02/01/2014

     Dificilmente quem ocupa cargos públicos, sejam eles eletivos ou não, consegue sustentar as amizades feitas no exercício da função, quando dela se despede. Há ao redor dos detentores de mandatos, principalmente, uma leva de” amigos” que desaparecem tão logo acaba a influencia do integrante do poder. Para esses áulicos e viciados das rodas palacianas, há muitos epítetos, alguns deles impublicáveis. João Agripino, de um humor meio cáustico e irreverente, confessou em hora de descontração:
    - Não tem quem aguente o bajulador. Mas que é gostoso é....
    No poder ou fora dele, me acostumei com os altos e baixos e procurei sempre me manter na planície, evitando ser contaminado pela vaidade que afeta muitos.E isso me serviu demais.Estando fora do poder, nunca fui acometido do sofrimento dos que amam o poder acima de todas as coisas e se deprimem quando são excluídos da Corte. Entender que todo poder é efêmero, sempre foi a minha primeira regra.
    Eu já contei de outra feita, mas não custa repetir, pois o exemplo é pedagógico. Estava diretor do Banco do Nordeste e quando chegava a João Pessoa tinha quase que sortear quem eu escolhia para jantar ou almoçar, tantos eram os convites. Quando sai do Banco, telefonei para um desses convivas de mesa de bar e ousei querer retribuir as atenções recebidas.E avisei: desta vez, quem paga sou eu. Nem assim o convidado apareceu... 
    Por isso olho com piedade para alguns delegados do poder que atendem seus interlocutores como se estivesse fazendo um favor. Às vezes, nem levantam os olhos. Para esses, a queda é mais dolorosa. Ressalte-se que muita vez se consegue falar com o superior, enquanto o subalterno se mantém inacessível e desligado. Ou ligado demais, sempre em reunião...
    Em casa sempre ouvi queixas. A mulher reclamava. Quando estava se aproximando de alguém, fazendo amizade, ou eu perdia o mandato ou trocava de partido.Os companheiros eram outros e os convivas também mudavam.Daí nasceu a conclusão real e verdadeira. O político não faz amigos. Quando muito, vive instantes de amizade...


    Voltar