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  • O poder é efêmero

    24/11/2013

     Tem gente que fez na vida pública uma carreira brilhante e constante. Ouvi de Ernani Satyro, num rasgo de modéstia, que a dele não era brilhante mas era constante. A minha não é brilhante nem constante. Registrei altos e baixos. Conquistei mandatos e amarguei suplências. Estive no poder e fora dele, muito mais tempo fora. Esse tobogã que me acompanha deixou lições que muitos precisam aprender.

    No poder ninguém escapa do assédio e dos rapapés. Basta você ficar distante do centro das decisões que mergulha no esquecimento. Pedro Gondim, cassado, só ia a enterro, por que não precisava de convite, reclamava.

    O finado Judivan Cabral dizia que tinha gente que não sabia viver longe do poder. Esses, quando caem, dizia com muito humor, sofrem tanto que chegam às raias da depressão. Aprendi, porém, desde cedo, que só existe um poder eterno - o Divino. Na terra, todos os eflúvios de força política ou administrativa são efêmeros. Quem pensar diferente tende a sofrer decepções.

    Para mim, portanto, tanto faz estar no alto como na planície. Mantive sempre um comportamento igual em circunstâncias diferentes. Sobrevivi na oposição e nunca aderi a governo algum. Estive no poder e dele saí quando o povo quis. Uma única exceção foi a mais recente. A Justiça Eleitoral me colocou na oposição. Nunca me entusiasmei com cargos ou posições. E lembro que até banqueiro eu já fui.

    O atual governador dos paraibanos recomendou a seus auxiliares em recente reunião: aqui não quero ninguém deslumbrado. Deslumbrado minha gente significa entre outras coisas desligar os telefones e não retornar as ligações; receber mensagens e não responder; deixar seus visitantes na sala de espera e sair pelos fundos ou entrar no veículo e não cumprimentar seu próprio motorista. Ficar deslumbrado inclui, também, eliminar o sorriso e fechar a cara como se todos os problemas do Estado estivessem, exclusivamente, nas suas costas.

    Quem está eventualmente no governo tem que entender que está em posição destacada, mas sua designação resultou de um processo longo e sofrido, onde prevaleceu a vontade da maioria. Essa maioria deu o poder de nomear a um governante e ele escolhe os nomes que bem entender, elegendo critérios os mais diversos. De nenhum governante partirá jamais a recomendação de que seus prepostos sejam desatentos com simples cidadãos ou lideranças que os procuram . Muitos se satisfazem apenas com uma palavra de conforto. Poucos pedem para si. A maioria reivindica para o aglomerado que representa.

    Eis uma advertência oportuna: não existe vigário colado. Os cargos são eternos, mas seus ocupantes são passageiros. Não há força que não acabe e poder que não se desfaça. Não nos deixemos iludir com a liturgia do cargo.

    Já contei essa historia, mas não custa repetir. Era diretor do Banco do Nordeste e quando chegava à Paraíba tinha que escolher entre os muitos chamados para jantar. Quando deixei o Banco, escolhi um dos meus mais assíduos comensais e convidei para um almoço, advertindo antes: desta vez, quem paga sou eu! Nem assim o meu convidado apareceu. Precisamos cumprir a recomendação do Governador. Todos ao trabalho e nada de deslumbramento. (Do livro, Em Prosa e no Verso.)


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