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  • A questão sulistas / nordestinos

    13/11/2014

     Aqui nasci, aqui moro no meu esbraseado, fértil, rico e amado sertão nordestino. Aposentado do serviço público, recolhi-me a uma morada no mato, numa pequena e primitiva fazenda. Sinto-me bem até demais. Impossível negar a importância deste território com uma população que sustentou em apelos e surtos migratórios, o crescimento do Sudeste, ocupou extensas áreas na Amazônia como “soldados da borracha”. Venceu condições naturais e sociais adversas e deixou a marca de sua presença, do seu trabalho na construção de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Brasília, para falar só nestas três cidades, que outras por este imenso Brasil muito lhe devem. E fixou-se, instalou unidades de povoamento, adentrando a mata ciliar, nas margens dos grandes rios do Acre ao Pará. O que seria do nosso país sem os nordestinos Rui Barbosa, Castro Alves, José Lins do Rego, Clóvis Beviláqua, José de Alencar, Graciliano Ramos Rachel de Quiroz, Clarice Lispector, Gilberto Freyre, Augusto dos Anjos e tantos outros nomes no mundo das letras? Uma sombra, uma cópia estupidamente alienígena de mamulengos. Na sua coluna no Correio da Manhã de abril de 1952 (Obras Completas, Telefonema, Editora Globo, 2007) escorreito protestava Oswald de Andrade a ação de uma política segregacionista do governo de São Paulo, que oferecia ajuda financeira e bilhetes de passagem para correr para trás a população de nordestinos que passara a morar na Pauliceia. Leiam: “Por que em vez de impedir não incentivar a migração dessa raça magnífica que é nossa? Até quando São Paulo será povoado da escória desajustada da estranja e verá prosperar somente o judeu asqueroso, o sírio bestial e o italiano ladravaz? Que venham essas levas nativas que trazem além dos braços, o coração brasileiro. Que venham fazer submergir aqui o estrangeiro velhaco, restaurando se possível a nossa amável cultura tradicional. Nós paulistas já sentimos que a pátria nos foge dos pés, porque nela só transitam o usurário, o avarento e o crapuloso achacador dos dinheiros privados e públicos. Que essa injeção generosa de sangue nordestino venha reabilitar a vida nacional que aqui se perdeu.” Afinal o Nordeste é o berço da cultura brasileira. Aqui aportaram as caravelas de Cabral, teve início o processo de construção da nossa pátria."


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