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Tempo de estudante
21/06/2014
"Sou como Ariano Suassuna paraibano de nascimento, com as almas presas, entretanto, ao nativismo e patriotismo pernambucano, que vem desde a expulsão de colonizadores batavos, do fuzilamento de Frei Caneca (que dormiu aqui nesta fazenda), da eleição de Pelópidas Silveira e Miguel Arraes. Bebemos o mesmo elixir, do orgulho e do conheci-mento, ministrado na famosa Faculdade de Direito do Recife. O Iluminismo, chegando ao marxismo ditava o nosso com-portamento político. Ah! Tempo da juventude, tempo de amor e de guerra. Na festiva vida universitária namorei, meio assustado, confesso, uma colega de faculdade, da família Ferraz que sustentava uma guerra familiar secular com os Novaes, de Floresta do Navio. Morreu muita gente. Ela morava nas imediações do Rosarinho onde passei meses no meu tempo de estudante. Era a circumvizinhança dos Aflitos, Tamarineira, Encruzilhada, Casa Amarela. Ariano sabe desta história. Da guerra, esclareço. Ouvi falar, por sinal, que o imortal aqui presente, de-fendeu ou defende um novo hino para Pernambuco, seria o “Madeira de Lei que cupim não roi”, hino do bloco car-navalesco Madeira do Rosarinho, de autoria do célebre Capiba. Verdade ou não, assino embaixo. Vejam apenas estes versos. “Queiram ou não queiram os juízes/ O nosso bloco é de fato campeão/ E se aqui estamos cantando essa canção/ Viemos defender a nossa tradição/ E dizer bem alto que a injustiça dói/ Nós somos madeira de lei que cupim não rói.” Uma luta em favor da Justiça, no estilo de Ariano. Esta fazenda Acauã, foi adquirida pelo seu pai, então governador do Estado, para aqui viver. Infelizmente uma bala traiçoeira e assassina tirou-lhe a vida. Sei deste acontecimento que ultrapassou o envolvimento familiar, tornou-se fato poli-tico estadual, migrou para a literatura, o que ele explicou à sua maneira, no “O Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do vai-e-volta.” Uma tradição lusitana-sertaneja-nordestina, que torna este pedaço de chão o “cerne da na-cionalidade”. Em 1970 comprei o livro que me agradou logo à primeira vista: o volume era grosso, ficava em pé sem encosto, atendia a recomendação do poeta campinense Adabel Rocha, major da nossa Polícia Militar. Narrativa cíclica, como o “Cem Anos de Solidão” de Garcia Marquez. Lá a Macondo e os Buendia; aqui a Paraíba e os Suassuna."
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