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  • Augusto dos Anjos, o estro

    29/03/2017

    Literariamente tornou-se difícil, e arrisco dizer, impossível mesmo, explicar e/ou formular conceitos definindo o modo de realização estética, o estro do poeta Augusto dos Anjos. Sustento o meu argumento, fundado nas leis do materialismo histórico na sua dialética esclarecedora, lidas em Georg Luckács e outros autores que passam de Aristóteles, Garaudy, aos ianques Edmund Wilson, Chomsky entre outros.

    Ensinam aqueles pensadores que a conduta não se revela à partir de conceitos, mas de situações concretas, cuja determinação e abstração descobre os distúrbios do comportamento.

    Situações sociais e orgânicas têm de ser avaliadas na sua interdependência, observada a teoria do reflexo, a lógica da determinação, a anterioridade até a razão. Aí está a impropriedade da teoria da literatura e sua crítica, de autores da escola do letrado e respeitável Chico Viana. Aí encontramos os expositores, criando modelos: a arte e sua teoria como eles a mostram.

    O domínio da cena artística pela “esperteza” capitalista (esta é a palavra apropriada para a expressão mercantil do julgamento de qualquer matéria em exame) na conceituação e qualificação de temas e modos de realização literária, dá lugar ao surgimento de uma profusão de teses incompatíveis, na minha concepção, com a explicação do fenômeno artístico.

    A realização acadêmica de ajuizamentos, não escapa à regra do “Senhor Mercado” que tudo transforma em objeto de comercialização: o Prêmio, o Emprego, a Titularidade. Começa, para impressionar, com a técnica acadêmica de teses em parágrafos e especificidades temáticas, sub-títulos, sempre numerados, até fracionados, reverberantes, aparentando uma indispensável facilitação para a compreensão. Daí que só o burro não entende, e ninguém que se mostrar um asno. E muitos concordam, esbaldam-se em citações e referências.

    Tal acontece porque tudo vem de dentro, como observou Hegel, pela profunda “ne- gatividade do espírito”, porque “a razão governa o mundo... e é somente na superfície que reina o jogo dos acasos irracionais; (a razão) explode sistemas fechados... restabelece a ordem quando a história parece absurda e sem sentido.”

    Dada a especificidade da arte literária, devo repetir, submetida às suas leis, avulta na expressão estética, a magia de que fala Fischer, que caracteriza a literatura imaginativa. O mais se enquadra nos interessantes conceitos e definições de Ezra Pound sobre os escritores em geral, como “inventores, mestres, diluidores, bons escritores sem qualidades salientes e beletristas”. Tal Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Álvaro Lins, Guimarães Rosa e José Lins do Rego, somente, para abreviar.

    Anotar e guardar na mente, numa anamnese, sensações fundadas em anomalias fisio-químicas que determinam patologias mentais observadas, para o diagnóstico, não contribuem para a criação de regras na composição literária. Exprimem o ser não o objeto.

    Existem as categorias próprias da arte literária (ciência da literatura) que falam desde a “Estética” de Aristóteles, na representação de homens em movimento, em ação. Esta é a condição própria da vida, da natureza, da sociedade, que no caso nos interessa, do ponto de vista da arte como parte da teoria do conhecimento, que explica o mundo e suas transformações. Não consigo fugir a tal compreensão, conceituação; ressalvo Paulo Coelho, o maior sucesso literário internacional em reedições sucessivas de tolices, em todas as línguas, buscando nos astros o sentido de suas narrativas e reflexões, algo distante, que não alcançamos, a que não cabe oposição e especulação. Desde que encham a sua bolsa, massageiem o seu ego.

    Queiram todos ou não, a literatura, assim como a arte, é um fato, um produto social, não fisioquímico. A obra literária iguala-se a uma greve de portuários, a uma desordem e quebra-quebra de desempregados, a um mural de Picasso, de Portinari, às gravuras rupestres de Pedra Lavrada e da Pedra do Ingá, na Paraíba e também das cavernas de Altamira, na Espanha, das grutas de Lascaux na comunidade de Montignac na França, entre mais localidades em todos os continentes.

    Não foi sem razão, que o autor da monumental HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL, parafraseando Lênin afirmou que “o estruturalismo é o ópio dos intelectuais”.

     


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