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  • As letras e o absenteismo

    16/03/2017

     Os escritores. Melhor dizendo o roteirista no cinema, o artista, afinal, o que representa esse tipo na sociedade urbana de pessoas? O singular que se pretende plural? Assim atravesso em indagações curiosas, as vias febriculosas da militância literária, à revelia de preceitos conceituais, fruto do “enciclopedismo militante” que destruiu a URSS, do repetitivo na nova politica partidária dos direitos humanos, que gera compensação no mundo da religião e diria das letras financeiras. Tal a internacional vulgarização poligráfica, mas fajuta do bispo Edir Macedo, e mais resenhistas no estilo Paulo Coelho, Jomard Muniz de Brito misturando insólitos ícones, que não me deixam mentir. Eis a que leva o absenteísmo capitalista, imperando no agro e no ogro, inescusavelmente, irresistivelmente. 
    Moro no interior, repito, sem outra pretensão além de me explicar. Ocasionalmente, passando tempo estirado, retomo contatos, e reencontro a paisagem e os costumes deixados de lado, perdidos, sobrevivendo na memória vital do passado. Trato de Virginius Figueiredo da Gama e Melo, um buraco que engole fantasistas amaneirados. Pois estive recentemente perlustrando esse ambiente telúrico-social, em solenidade na Academia Paraibana de Letras. Quanto riso, quanta alegria! Falo em nomes, impossível de evita-los, porque seria matar a cena e o tempo. A minha memória guarda paisagens derelictas, escapando inconsumidas por toda vida. Assim escrevi esta verdade num poema. 
    Ao chegar cumprimentei apressado e com orgulho, o ex-governador Juarez Farias e esposa, que foi ministro e muito mais, amigo do tempo do agripinismo, morto.na Paraíba. Aí entra Virginius Figueiredo da Gama e Melo sobrinho e neto de governadores, todavia inapagáveis, na nossa gloriosa história tabajara. Este reapareceu na ecdótica que renasce virtudes textuais, na beleza de encadernações policrómicas, capas duras, rebrilhantes. “Verbo & Imagem”. Assim é a literatura da ordem do dia. Em todos os tempos, entre nós, no tempo das famosas igrejinhas que criaram entre outros fatos o romance nordestino como acentuou Caio Prado Junior.
    Mas quero falar de pessoas, mesmo com o risco de graves omissões: Começo com o meu genro Elias e o seu amigo kurosawiano Akishigi, sensatos e discretos, a magistrada conterrânea Maria de Fátima. Helder Moura, o mais recente gênio do romance paraibano, alcançando o universal, criou e dominou o cerimonial, secretariado pelo imortal Ramalho Leite que me dirigiu emocionante saudação morenense, recriando o ímpeto do saudoso Waldir dos Santos Lima, do esperto Edvaldo Mota que puxava para enriquecer o cerimonial o esclarecido e arrebatado Amigo Velho. 
    Bem escreveu Virginius, a propósito de Ze Lins do Rego e o meio, que “a paisagem, nele, é tão irremediável quanto a personagem, que seria impossível sem a circunstancia ambiente.” Impossível reviver os Setenta em João Pessoa sem as mulheres do saltitante e cinematográfico Will Leal. Ah meus leitores quanta gente a começar com Lourdinha do Ministro Zé Américo, o comunista imortal Chico Pereira de Campina, o romancista piancoense José Ronaldo Farias, o preclaro Gilvan Freyre, ótimo nome para o governo nas futuras eleições. O sucessor do livreiro Luis expunha brochuras, encadernações. Gente boa demais. Eu completava o cenário, na política e nas letras, sempre presente, embora no sereno. O mais é o sereno, como acentuava Zé Lins.


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