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  • Cajazeiras X São Paulo: Sousa se volta para o futuro

    28/03/2016

     Eles são assim: voam alto. Falo de cajazeirenses e cajazeirados. Acomodados e displicentes, os sousenses andavam esquecidos¬¬¬ do tempo, e a cidade amargou fracassos, a orfandade política. E os nossos líderes? Estes parecem despercebidos. Enfrentar a situação típica, o novo momento social, exige estratégia para sustentar e vencer o combate, alcançar as mudanças que a maioria reinvidica. Vemos na população que sai a rua para as compras da família, mesmo para negócios, a ansiedade estampada na face das pessoas. Tudo é fruto da crise do desemprego, da recessão, da corrupção que roi as forças do país, arruina a moralidade nacional. O povo quer mudanças, quer progresso.
    Cajazeiras no seu jeito típico de reivindicar, tomou as regiões administrativas estaduais sediadas em Sousa, o aeroporto, as escolas de nível superior, e mais ações governamentais do interessa da cidade e da população. Dos cajazeirenses (sou quadrineto de Vital Rolim e Mãe Aninha), herdei a tendência para a altercação. Não para a tergivesação. Nasci em Sousa onde ainda hoje vivo, amo a minha terra. Morro por ela.
    Uma intolerância recíproca entre as duas cidades nos contrapõe. Lembro que certo dia, em companhia do saudoso amigo Célio Pires, sousense casado com uma cajazeirense, visitando a cidade, a minha rica prima Adalgisa do cel. Matos, impenitente patrioteira local acusou-me como sousense, de ter desviado o traçado da ferrovia federal e roubado o trem deles para Sousa. Vejam só! Eles, como se diz, não abrem nem para o trem.
    Assim se fizeram grandes e disputam agora com São Paulo − não com Sousa e Ipaumirim que seria um rebaixamento, tão alto se acham empoleirados. A discussão, porém, é sobre o pior ensino de medicina no país se o de São Paulo ou o da terra do Padre Rolim. Até nisso, pois Cajazeiras, não se peja, tem uma escola médica embora os estudantes, recebam a maioria das aulas em Sousa, segundo comentam. O fato é que disputamos o curso e perdemos. Eles ganharam, sabe Deus como. Falam que foi o filho de Isaac Mariz que deu de presente, iniciando carreira política, aos preclaros cajazeirenses e cajazeirados, ele um deles. 
    Um atropelo a minha vida, nesta ordem de ideiais. Aliás, Cajazeiras é uma cidade que muito pouco frequentei, quer na juventude quer agora na vida adulta, na terceira idade. Nossos mundos, a rigor, não se comunicavam. E, para mim a situação hoje é a mesma. Praticamos, dissimulados, um evidente enfrentamento belicoso. E como é costume trazido do Tejo, das levas migratórias, nos ofendemos reciprocamente. No comércio e no futebol. Respeito-os como cidadãos afirmativos no amor a sua terra, vigilantes na defesa dos seus interesses, como lamento a sonolencia dos sousenses, esquecidos do seu futuro.
    Como nasceu a raiva? No circuito internacional da economia Cajazeiras estava lá embaixo. Sem perspectivas relevantes, eles passaram como os chineses de hoje, a produzir e comercializar novidades de sala, copa e cozinha, quinquilharias, absorvendo o consumismo popular da região. Coisa pequena de mascate. Mas se arrogavam e tornaram-se um “centro regional” de compras neste ramo. Instalaram depois lojas concessionárias de revenda de veículos, estações de rádio. Dispararam.
    Acontece que, a quem Deus promete não falta, como sentencia a sabedoria popular. Numa época que noventa por cento da vida econômica sertaneja (isto na primeira metade do século pasado), se sustentava na produção agropecuária, a bacia sedimentar de centenas milhares de hectares de nossas excelentes terras para agricultura, nos proporcionava o status de município mais rico da região. Isto magoava os nossos vizinhos.
    Os taboleiros acidentados e pedregosos de Cajazeiras determinaram a busca pela população de opções noutras áreas econômicas. Criaram colégio e diocese, um Tênis Clube, coisa de Rio de Janeiro. Exploravam a sede do saber, a religiosidade e o orgulho competitivo. Os ricos de lá passavam as férias no Rio, nós sousenses, nas fazendas. E eles nos chamavam de beradeiros. Mas o meu tio-avô coronel Joaquim Matos morreu atropelado atravessando uma rua, quando passava férias em Copacabana. Beradeiro? Assim anunciavam-se elite social, que ensinara a Paraíba a ler. Entretanto, roiam-se de inveja, desfrutando a duras penas recursos precários. 
    Sabemos todos da exaltação do patriotismo da população destas cidades, em permanente e violento confronto desde priscas eras. Na fundação dos burgos, circunstâncias geológicas e geográficas, a crônica da pollítica republicana, fizeram Sousa mais destacada: homisiara Frei Caneca, esbanjava riqueza: tinha o trem, o campo de aviação, a oiticica, a carnauba, o gado, o algodão, a irrigação. Restava aos cajazeirenses a maquinação vingativa. E a ela se entregaram de corpo e alma, verdadeiramente à competição, sejamos justos.
    Sabem os cajazeirenses superar dificuldades, dissimulando ações e se especializando na luta. Infiltraram-se, roeram as raizes e bases do crescimento sousense nas extensas e férteis varzeas. Compraram a fazenda Acauã. Lá se foi a nossa tradição. Deitados em berço esplêndido, como canta o hino nacional, não percebemos que os rumos da vida econômica e social encaminhavam a Nação para definições políticas.
    Cajazeirenses e “cajazeirados” (patronímico inventado e adotado por eles), formaram batalhões patrióticos de que falam os bastidores da história, infiltraram quintas-coluna − alinhamento de um exército orgulhoso, determinado como os cruzados, direi melhor os templários que, como eles, não eram comandados pela fé. 
    Vocacionados para o trabalho, todavia, nós sousenses exploramos as nossas potencialidades econômicas e a nossa cidade, sem serviços públicos compatíveis com as necessidades locais, a urbanização assentada na planura dos terrenos, estende-se gloriosamente com edificios modernos. Linda cidade, perfumada à tarde na floração dos pereiros, com as belas praças e avenidas, aprazíveis bairros, favelas razoavelmente assistidas e urbanizadas.
    Mas como fala o povão: chegaremos lá. Quero dizer: o trabalho é a nossa arma contra o desalento e a corrupção. Seremos como no passado, a terceira maior cidade da Paraíba, atrás somente da capital e de Campina Grande. Sairemos da humilhante posição que passa de vinte. Voltaremos para a terceira, assim querem os seus filhos e os que escolheram Sousa para trabalhar e viver com a sua família, e a quem muito devemos. 
    Hoje, lamentavelmente brincamos o Carnaval e as quadrilhas do São João em Cajazeiras. Para viagens aéreas partimos na frente e tinhamo os aviões dos empresários Zé Gadelha e Dezinho Queiroga estacionados aqui. Cajazeiras viajava na Andorinha de João Rodrigues. Eles construiram um aeroporto monumental desmotando serrotes, consolidando aterros de altíssimo custo e implantaram uma pista para tráfego pesado e extensão para aviões de grande porte. Enquanto isto, desativamos o nosso aeroporto com hangar, recepção de apoio, e o inviabilizamos com o asfaltamento de uma pista para “teco-teco” quando temos uma planície e espaço em condições de implantação de uma Base Aérea, já utilizada em treinamentos no passado, por mais de cem aeronaves militares. O dinheiro do governo não chega mais em Sousa.
    Em tempo rendo uma homenagem ao pioneirismo de Cajazeiras, no campo da aviação privada. Sem condições locais para implantar atividades de aviões de passageiros, ressentidos com o tráfego de aviões oficiais que desciam em Sousa, eles ofereceram à região o primeiro avião de aluguel para viagens. Marca do heroismo que hoje chamamos empreendorismo. E deixou crônica, que valorizava eminentes personalidades sociais que utilizavam o serviço. 
    Vou fazer justica, e como se diz, dar nomes aos bois. Falo de “Antonio Pão Doce” proprietário de caminhão, paciente, vagaroso nas travesssias sertanejas. Uma viagem de meio dia para Campina no caminhão canela-fina de Chico de Varelo, filho de Sousa, levava dois dias no de Antonio Pão Doce. 
    Ele fez curso de pilotagem, comprou um avião teco-teco que aterrisava num campo de futebol perto da cidade e o guardava na sombra de uma oiticica. Tinha fregueses leais: o político Antonio Araujo que orgulhoso descia do avião, frequentava festas de padroeira e bailes de debutantes, arrematando a dança da primeira parte nos bailes com a moça mais bonita, e o empresário destacado Chico Leitão que voava longe, operando do Piauí para Sousa, Patos e Campina Grande em negócios frequentes.


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