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  • Explicação matuta e neoliberal o Brasil

    25/01/2016

     Aqui onde moro, os fatos da sociedade e o seu desenvolvimento, a sua história principalmente, têm origem nas lendas e se inscrevem nas regras da conveniência pessoal. Em casa, na feira e na igreja, todos cumprem ou contrariam deveres reconhecidos. Alguns leram autores populares ou eruditos, outros conhecem divindades do candomblé, tribais, apocalípticas. A mente povoada de narrativas estranhas que escutamos, assim vivemos. Quase sem memória e o olhar no futuro. Porque a esperança, falam, é a última que morre.
    O Estado para os marxistas originou-se na luta de classes, é produto da história. Para os religiosos é de inspiração divina. Já para os agnósticos, acontece simplesmente, e argumentam que, assim como não é possível provar racionalmente a existência de deuses e do sobrenatural, é igualmente impossível provar a sua inexistência. Nessa ordem de raciocínio entra o Estado. Ambiguidades. Coisas da filosofia, em que não pude me aprofundar. 
    Atentos a tais explicações, seguimos regras de inspiração almiscarada, nascidas em oportunidades várias e contraditórias, que nem sempre nos agradam. Não importa, se esta é a sociedade que temos e dela é impossível sair incólume. Como naquela música de protesto: “gado a gente ferra.,.” com o carimbo do neoliberalismo, digo eu. Assim manda a Banca Internacional.
    A minha formação universitária, fundada na religião, e na mulifacetada sociologia que esbagaçou a ciência da história, implica na busca das razões, disso e daquilo. Imperativo e coerção impõem adaptação, o que não é difícil para os agnósticos. Eu, porventura, um deles? 
    Impasses governam a nossa vida. Acontece que a midia, integrante do complexo global do Mercado, explora as instituições em detrimento da existência do Estado. E se arroga naturalmente autoridade maior, mercê da ideologia do grupo.
    Dhumenil e outro francês ou belga (Le Monde Diplomatique 2009), reescrevem o marxismo, anunciando uma luta a três não mais a dois, determinante das mudanças sociais. Ao lado do trabalhador e do empresário no processo histórico, existe outra personagem, a dos competentes e dirigentes, que pendem ora para a esquerda ora para a direita que não de-sapareceram, como reconhece Norberto Bobbio em análise específica. Para comprovar a enumeração e as tendências, aí es-tão a ONU e outras organizações dos Estados democráticos ou monarquistas, tribais, igualmente os conhecidos tratados sobre a economia, o armamento, a guerra e a paz.
    Sabemos no Brasil a crise que atravessamos e intimamente criamos ao nosso gosto, soluções para o embaraço, às vezes nos desesperamos. A realidade, apesar de indesejável e dramática demais, contida no subtítulo deste comentário, não deixa dúvidas, tem muita força.
    Refiro um pensador qualificado, infelizmente desmastreado como participante de uma elite que dirigiu o país e falhou. Falo de Tasso Genro. Eu argumentava, na evidência da crise política nascida com FHC e Lula, que o governo estava assustado. Sobravam empregos: do escalão técnico superior ao nível modesto do ajudante. Como podia? Atraso tecnológico, econômico? Carência de informações? Protesto silencioso? sobediência civil? Hoje a nação está arrasada. O número de desempregados é crescente.
    O citado gaucho, comunista, um dos fundadores do PT, na sua inspiração e conclusões face o desfecho da crise, es-clareceu: “Nós avançamos um pouco”. Falava do nascimento dos novos “sujeitos sociais”, contudo, advertia: “São pessoas que jamais aceitarão ficar à margem de um processo de demanda”. Aí está o problema, que o partido no governo não soube evitar.
    Esta onda de protestos por tudo e por nada, assume um caráter de sovietização, na fragmentação incontrolável, da discussão dos chamados direitos sociais. A possibilidade de criação e surgimento de querelas por “dá cá aquela palha”, na linguagem do velho Machado de Assis, resulta inalcançável a sua compreensão. É a realidade do país nos parâmetros petistas, que este grupo não soube discernir, compreender e consagrar como efetivos e objetivos. Não falo em negá-los. Mas lembro que eles quebraram a Petrobras, que valia mais de 400 e hoje não chega a 80 bilhões de dólares. Crime lesa-pátria. 
    Assim batemos de frente num “paredão” como afirma Giannetti. Não o dos fuzilamentos de Cuba, mas o de regalias e privilégios, que excluem os cidadãos, que se mostravam inexpugnáveis. E o Governo e o Mercado, para controlar a situação recorrerão à força, ao suborno, ao engodo. Não recuarão. O povão também, expondo perigosamente direitos adquiridos, a sua vida. Já está acontecendo.
    Poucos lembram o Brasil de trinta anos atrás. Industrialização, tecnologia, infraestrutura praticamente inexistiam. Direitos sociais nem falar. Hoje noções modernas desses direitos chegaram até nós. Leitura antiga na famosa revista Veja mostrava que na Inglaterra, era melhor estar desempregado do que ocupar emprego. Tantas eram as “cotas”, “bolsas”, “inclusões”, “profissões”, “atividades”, “auxilio prisional”, “direitos”, “relações”, etc, oferecidas ao cidadão, reconhecidas e protegidas pelo Estado, que viu de perto o colapso de sua vida constitucional. Copiamos o modelo?
    Em circunstâncias semelhantes chegamos à situação anunciada por Tasso Genro: ninguem aceitará, jamais, ficar à margem de qualquer processo de demanda. Devo repetir.
    Sabemos como é o Brasil de hoje: pobre viaja de avião, frequenta shopings, tem direito a SAMU, Hospital. E queima pneus, incendeia ônibus, arrebenta vidraças, interrompe o trânsito de veículos nas ruas e nas estradas. Um direito sem dúvida. Evitar dano ao parimônio público e privado constitui infração criminal. Aos que reclamam, cabe defender o que entendem ser também direitos seus. O governo não está nem aí. Chegaremos à farra da democracia, se é que já não estamos em plena festança.
    O academismo petista está levando a pobreza e a nobreza ao desespero. Os factoides erigidos em direitos e projetos populares, as instituições de fachada criadas para administrá-los com pagamento de ricas gratificações salariais, a corrupção institucionalizada inviabilizam o funcionamento da administração, empobrecem financeiramente o país. As suas potencialidades também. Mas aos ricos pouco importa, guardam lá fora o seu dinheiro. E já podem trazê-lo sem obrigações fiscais. Pobres também, mas cadê a grana?
    Leiam a pequena anedota abaixo, sobre caridade, solidariedade e direitos, que ilustra os comentários acima. 
    Certa madame financeiramente abonada, para auxiliá-la na faxina de sua casa, procurou uma parenta jovem, tida como pobre. Praticava um ato de caridade, como pensava. Disse que pagaria bem. A moça respondeu simplesmente que não podia aceitar a oferta. Tinha compromisso em vista. Nascera uma berruga no joelho de uma prima do seu namorado, e certmente ela iria baixar hospital. Teria de acompanhá-la. 
    Outro mundo, Outra vida.


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