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  • Mar de histórias, rosários de crenças

    23/11/2015

    O que reanima o meu espírito, neste fim de vida − sentado numa cadeira vendo filmes históricos, “clássicos” dramas e comédias, documentários de bom nível cultural, noticiário pela televisão, folheando livros novos e alguns já lidos −, está na alegria de reencontrar o passado vivido. Desfruto, na verdade, aposentadoria e alguns bens. Sobra-me tempo, mesmo na imprecisão da disponibilidade final dos dias que me restam.
    Como sabem, moro na zona rural do sertão da nossa Paraíba − bastante citadina com energia elétrica, todos os eletrodomésticos que vendem nas lojas. Para mim terra boa, o ambiente de minha natividade. Aqui tudo vejo e tudo sei ou pressinto; o mais induz ao conhecimento cabal do fato ou da experiência.
    A minha vida familiar transcorreu desde a infância no meio urbano pequeno e isolado, distante das grandes cidades, dos centros metropolitanos. O campo entrava nos nossos costumes porque dele dependia a vida da população, quanto a alimentos e material para construção e fabrico de prédios e bens móveis. Para alimentação legumes, carnes, gorduras, frutas silvestres, as jazidas de barro e de areia, pedreiras, enfim, estavam na vizinhança, a dois passos do comércio, da igreja, das moradias ricas e pobres. Pouco mais do que isto necessitávamos, e vinha de fora. 
    Nessa ordem de ideias, de acontecimentos e de mudanças, frequentei escolas, saí de famosa faculdade bacharel em direito. Conquistei na internet acesso a todo conhecimento que a humanidade acumulou até hoje. Com o dedo no teclado leio e traduzo em todas as línguas. Um exemplo, na nossa ortografia: “Alahu Akbar” em árabe (na moda com o Estado Islâmico): “Deus é grande”, na nossa língua portuguesa. Passei a morar na cidade mas voltei para o sertão. Chego a pensar que sei das coisas.
    Em todas as civilizações é costume a busca de informações sobre o passado, a origem da vida, da sociedade. Todos os povos no planeta curtem essa nostalgia. Está no nosso Casimiro de Abreu, que todos os povos civilizados ou não, têm o seu.
    O costume e o passado que curtimos na literatura, nas artes enfim, na mimese de representações, salvaguardam a vocação para consolidar tradições doces ou amargas. Sinfonias, adágios, poemas, sonetos, telas, estatuária, instalações, epopeias, mesmo relicários vivos, memórias nos enchem e pacificam o espírito.
    O que antes era privilégio dos ricos, dizia-se dos bem nascidos, que tinham acesso à escola e aos livros, hoje exaltam as alegrias e adormecem as dores gerais − de todos, arrisco-me em declarar, com o advento da internet −, bebidas as informações diretamente no circuito eletrônico ou transmitidas por interlocutores.
    Deus seja louvado.


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