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  • Forró de Plástico

    02/11/2015

     A gigantesca China de hoje, com raízes numa civilização de mais de 2500 anos, fundou o seu modelo no socialismo-marxista que chegou ao poder em 1949, sob a liderança de Mao Tse Tung à frente dos operários e camponeses na Grande Marcha, derrotando as conservadoras dinastias; e vivenciou, historicamente, momentos de convivência com todas as tendências ideológicas presentes na vida da população. “Que desabrochem todas as flores, que prosperem todas as tendências: a síntese dialética que determina o modelo social vencerá no final”. Esta era a palavra de ordem. E chegaram aonde chegaram. Aperfeiçoam-se. É evidente que visões e manifestações distorcidas sobre a realidade objetiva, o momento histórico, fruto das variáveis que caracterizam a conduta dos homens, foram conhecidas e superadas, e até violentamente rejeitadas. Tal o nosso destino, acredito, e acontecerá no nosso país, como revelam passos à frente que a arte e o direito (superestruturas ideológicas) têm dado numa política de massa. Quanto à arte e a política, na sua generalidade, revelam práticas que, lamentavelmente, tentam impor a institucionalização de um modelo nefasto, dirigido, criado pela mídia. A sociedade, todavia, faz sentir a força de sua escolha e decisões. Defender o “forró pé de serra” nada tem de conservador, mas de preservação da memória coletiva, comunitária, reveladas através da música popular. Vivo a atualidade musical, escuto Gonzagão, declamo Inácio da Catingueira e alguns autores paraibanos, sertanejos e caririzeiros. Esta a minha posição. Quanto ao forró de plástico não sei do que se trata. Seria o das bailarinas que dançam com e sem calcinha? Seria o das "letras incrementadas” no estilo: " [...] eu tenho uma filhinha bonitinha, parece uma goiabinha, mas meu vizinho tá querendo comer a bichinha [...] bote dentro que fora não dá [...] vou pruma festa com cachaça, forró e rapariga [...] pode chupar, é mais gostoso do que picolé e você vai gostar e vai gozar..." E mais e mais versos neste padrão. Que escuto e não canto. Coisa da idade? Não sei, porque não desgosto de certas práticas instintivas, animais. Colhi na internet, ressentido comentário do nosso Ariano Suassuna sobre este tema. Permitam-me a citação abaixo – longa mas explicativa, elucidativa da polêmica que envolve intelectuais paraibanos chegando ao cume do poder, envolvendo o Secretário da Cultura e a Primeira Dama do Estado. Eles declararam que seus ouvidos não são pinicos para escutar o que chamam “forró de plástico”. Vejamos a argumentação do mestre da Pedra do Reino. “Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade. Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura); Zé Priquito, (Duquinha); Fiel à putaria (Felipão Forró Moral); Chefe do puteiro (Aviões do forró); Mulher roleira (Saia Rodada); Mulher roleira a resposta (Forró Real);Chico Rola (Bonde do Forró),Banho de língua (Solteirões do Forró); Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal); Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada); Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca); Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró); Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró); Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.” – Ariano Suassuna. No caso, fico com Chico César e a Primeira Dama, sem política partidária e de governo: o meu ouvido também não é pinico, bispote de barro, como diria o saudoso coronel José Rufino, senhor de engenho e intelectual no estilo do Comendador José Henrique, de Brejo de Areia, contistas conservadores evoluídos. - Eilzo Matos Semana Santa. Chuva muita no Sertão"


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