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  • Em Sousa, novos dados de uma antropologia

    10/10/2015

     No meu tempo de Sousa, há sessenta anos atrás, mandavam na Paraiba Rui Carneiro e Argemiro Figueiredo com os seus representantes. João Agripino estava começando e Pedro Gondim, também. Os funcionários públicos eram daqui mesmo, ou de outras cidades, porém carimbados com o Partido que estava de cima. Juízes e Promotores principalmente, porque de famílias ricas que estudaram, eram bacharéis aprovados em concurso. 
    “É dos Sátiro de Patos, dos Gaudêncio de São João do Cariri, dos Maranhão de Araruna, dos Leite de Piancó, dos Feitosa de Monteiro, dos Rolim de Cajazeiras”, diziam quando eles passavam. E curtíamos amizades rememorativas familiares. E tinha os italianos Finizola, Vita, o alemão Langbehn.
    Mas os tempos mudaram − remonta hoje a cearenses, mineiros, sulistas, estrangeiros − pois é outra a dicção, o timbre e o tom da voz, a prosódia é realmente diferente da que usa a nossa gente. Em outros, os tipos esquisitos sem os traços fisionômicos, e a ossatura famiiliar identificativa dos clãs locais dos gordos e dos magros, dos altos e dos baixos, dos empenados, dos queixudos, dos gogó de ema, dos cabeludos e dos carecas, até de abaianados chistosos, eloquentes, que todos os conhecemos de longe. 
    São funcionários públicos, de empresas privadas, bancários, religiosos, policiais, todos enfim, mostrando a sua origem diversa da nossa gente nascida aqui. Muitos chegaram se estabeleceram, constituíram família como o parrudo mineiro João Costa, enrolando a língua e sílabas na pronuncia, casado com Mercedes Mariz, cearenses que falam “o José, a Maria, gosto de “tji”, e estranhas preferências alimentares como arroz com piqui, muito jerimum. Uns paradoxalmente esquivos e afirmativos como Américo Arruda Câmara da UDN da várzea do Paraíba, o inspirado poeta amigão da cachaça, o brejeiro Luiz O. Maia autor do mais belo poema declamado nos bares naquele tempo “Jesus e Minha Noiva”.
    Contava o drama de um noivo que perdera a amada, internada num convento por amor a Jesus. Assim cantava o galegão brejeiro vestindo diagonal branco usando ócolus Ray Ban, casado com uma Pires do partido de Rui Carneiro: “Não mais quero a Jesus, santo invejoso, / Que por ser muito rico e poderoso / Conquistou minha noiva idolatrada. / Serei de agora em diante um ser errante...” Era graduado funcionário federal.
    De Alexandria, antiga Barriguda, no Rio Grande do Norte, vieram as famílias do velho Cazuza, sempre de paletó e gravata, nariz adunco sustentando um óculo de grau, carregava uma pasta e vendia seguros de vida, de Mestre Zequinha e de Mestre Tonho, deles ficaram numerosa descendência. O primeiro tinha uma loja chique que vendia tropical inglês e linho diagonal, costurava para os ricos, era eleitor dos Gadelhas, e o segundo com uma oficia artesanal típica, nada comprava, vendia a força de trabalho dele proprietário e dos seus operários, entre eles o celebre “Lobo de João do Pão”, Euticiano, que criaram um incidente de somenos importância com a família de Miguelzinho Cordeiro, que morava vizinho a alfaitaria. Mestre Tonho votava em Antonio Mariz.. Costurava para os remediados que o povão não pagava serviços particulares.
    Vivi este tempo e me liguei por amizade aos descendentes dessas e de outras famílias, frequentei bares e festas religiosas e profanas do calendário da cidade. Peço desculpas por divulgar estes arremedos de sociologia e antropologia, no estilo e sem desdouro de Darcy Ribeiro.


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