Página inicial


  • Sousa e Areia - Uma Viagem no Tempo

    04/05/2015

     Pedro Américo – todos os que frequentaram escola, entre nós, certamente o conhecem, destacado que é entre os brasileiros mais notáveis. A magnífica tela retratando o “Grito do Ipiranga”, que ilustra textos e documentos sobre os pintores brasileiros e a história do Brasil, nasceu do seu pincel, no civismo da ocasião retratada, nas cores tão vivas da paisagem natural que povoavam a sua memória; bebidas na luminosidade cromática das encostas orientais da Borborema onde se incrustou como joia rara, a cidade de Areia, que cognominei orgulhosamente, em cerimônia consagradora: Cidade Relíquia da Paraíba. Assim ditavam as suas conquistas, o seu galardão, honrados por José Rufino e José Henrique, no cenário político e intelectual do nosso Estado, do nosso país, ainda hoje não igualados, pelas suas co-irmãs paraibanas, nos feitos e alcance de sua presença.
    Na tela referida, estão retratados na mais nobre expressão plástica, a paisagem rural e cavalarianos do séquito imperial, ao lado de Sua Majestade de espada desembainhada, erguida acima da cabeça, seguidos de cortesãos, em marcha; e o intimorato gesto patriótico, declarando e conferindo independência política ao Brasil, então colônia de Portugal.
    Pois essa genialidade do areiense, ainda muito jovem, medrou em Areia e exercitou-se em Sousa, integrando missão científica que ali aportara e se demorara no século XIX.
    * *
    Conhecido também dos brasileiros que estudaram a nossa história, portanto, é Jean Jacques Brunet, cientista francês, que em famosíssima missão autorizada pelo Imperador, realizou no Século XIX, um levantamento detalhado dos recursos naturais do Brasil, pela análise e descrição do meio físico – minerais, fauna e flora, chegando ao comentário antropológico sobre o meio rural e urbano, suas construções, sua gente. 
    “A sua chegada á Paraíba em junho de 1853 foi comunicada ao Ministro do Império pelo Presidente da Província, Antônio Coêlho de Sá e Albuquerque que o apresentou como naturalista de bastante conhecimentos e habilidades, viajando á própria expensa”.[*]
    Com a notícia da presença do cientista entre nós, o Governo Imperial apresou-se em contratá-lo para estudar os nossos sistemas hidrográfico e orográfico; a geologia, com as suas possibilidades mineralógicas e relíquias fosseis; a flora e a fauna, catalogando as espécies ainda desconhecidas; e tudo mais que lhe parecesse de possibilidades econômicas para a região.
    Descobrindo em Areia o garoto prodígio Pedro Américo, Brunet incorporou-o á missão cientifica, trazendo-o, menino ainda, para as penosas caminhadas que empreendera. (ob. Cit). Chegando ao sertão, aqui realizou o jovem o registro artístico-científico dos dados objeto da pesquisa.
    * *
    Em Sousa a missão Brunet demorou-se na fazenda Flexa, na Várzea dos Martins, na proximidade de São José da Lagoa Tapada. Ali Jean Jacques e o menino Pedro Américo de-senvolveram as atividades constantes de relatórios levantados pelo historiador Vingt-un Rosado, que representam a rara e única coleção de referências científicas ao meio ambiente do semiárido no século XIX, com paisagens e figurações, fichas técnicas, cadernos de campo, relações nominais, criação de vasta nomenclatura científica de seres orgânicos e inorgânicos, fauna e flora, minerais raros, resultado dos seus trabalhos.
    Na senhorial fazenda, onde foram recebidos e se hospedaram, também casaram Jean Jacques e o filho Theobald, que ali faleceu anos depois e foi sepultado, deixando descendentes que constituem a numerosa família dos Brunets da Paraíba. Com cara de taberneiros sonolentos, narigudos, barrigudos, acentuada calvície, vistos em Zola, Balzac, Dumas, Sue, aqui remanescem os tipos. Fixaram-se eles nas ribeiras do Piancó/Peixe/Piranhas. O outro, Jean Jacques, seguiu com a esposa sousense, através do Brasil, referindo a família, correspondência recebida de sua passagem pela Baía, Amazonas, finalmente Venezuela, através do correio diplomático.
    Na primeira década do século XX, o governo da Paraíba mandou como Promotor Publico para Sousa o areiense Jose Américo de Almeida, que vivenciou na catinga sertaneja a tragédia das famílias tangidas pelas secas, que conhecera na bagaceira dos engenhos de Brejo de Areia, famintos, compondo o cenário retratado no romance A Bagaceira, introdutor do realismo no romance brasileiro, como um libelo crime acusatório produzido no seu mister judiciário. 
    Aqui estamos, pois, sousenses e areienses, dignamente representados nos mais significativos momentos da história do nosso país, através da elaboração de dados científicos levantados, identificados, ganhando notabilidade pelo destaque conquistado no mundo cultural do país pelo pintor e pelo cientista. E no ato maior que elevou os pais a Estado Soberano e Independente. No caso Sousa e Areia, reunidas.
    Sertão 15 / 11/ 2008. No mundo dos Brunets.
    [*] LEITÃO, Deusdedith, “As Andanças de Brunet”, in “Letras do Sertão”Ano IV No. 11, pág. 7, 1954.


    Voltar