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  • Carta a Lena Guimarães

    19/01/2015

    Querida amiga Lena. Permita-me tratá-la assim, em razão da antiga, duradoura e fraterna amizade que nos aproximou durante muitos anos, interrompida quando abandonando a militância política e partidária, demandei a catinga sertaneja para viver uma nova vida num exílio espontâneo e feliz numa fazenda velha, que ainda perdura. Mas a memória guarda as lembranças da entusiástica convivência com os amigos de então, principalmente os jornalistas, no circuito político. Tudo animado na base da cerveja, do rum, do wisky, do filé, camarão, lagosta, dos vinhos finos. Tive a satisfação de ter na minha mesa no Cassino da Lagoa, na João Pessoa de duzentos mil habitantes, a companhia dos eméritos colunistas políticos e amigos Severino Ramos, Nonato Guedes e o incomparável Paulinho Soares. 

    Você, na época, era assessora especial de “Biu”, acredito, então presidente da API completando cinquenta anos. Sempre respeitosa, e atenta para as infinitas complicações da agenda pessoal e profissional do preclaro chefe. Porque Biu, sabemos como ele era. As damas o cortejavam, os políticos o assediavam, os bares (o de Moura na API encenava um cerimonial especial) ofereciam-lhe mesas e adega sortida, ambiente reservado para as suas reflexões. Ele não resistia. Daí as dificuldades e encrencas inesperadas. Tenho-lhe respeito, admiração e amizade. Para mim é um dos gênios da nossa Paraíba. O mais é fofoca de “despeitado”, como reagia o nosso coevo poeta “Caixa Dágua, às críticas à sua abrumada poesia. 
    O caso Lena, é que a minha admiração pelos antigos companheiros e correligionários tornou-se simplesmente pessoal e respeitosa. Passara a viver a condição de pequeno proprietário rural com os seus problemas vexatórios. Mas no fundo da memória restavam ideias antigas de construir de transformar. Rematada tolice. Deixei o meu partido e ingressei noutro (o PT) que prometia a realização daqueles sonhos, se dizia socialista, combatia no nascimento o neoliberalismo, que destruía a nação com o venal Fernando Henrique à frente. O desastre foi maior. Deste também me desliguei, entrei no PSB com a sombra de Arrais nas minhas lembranças de estudante no Recife. Ricardo apresentou-se, destruiu eticamente a legenda. De uma geração mais nova, afastado da cena, não o conhecia. Fui na onda.
    O notável linguista e filósofo Chomsky (do MIT-USA) fala que a “fabricação de ilusões necessárias para a gestão social é tão velha como a história... a instrumentalização dos cidadãos se faz através dos mais poderosos meios de manipulação de massa criados até hoje pelo o homem: a imprensa, o radio e a televisão” Aí encontramos com todas as letras o fenômeno-origem de Ricardo Coutinho. Assim é fabricado o adesismo ao seu nome. Maranhão, Cássio, Nadja, Aracilba e a Paraiba sabem da verdade. Eis um político que disputa e exerce o poder com métodos de bandoleiro e agressividade de assaltante, para quem as palavras não têm valor, a verdade não se distingue da mentira.
    Individuo medíocre, pessoa sem qualificação que o eleve moralmente, mostra-se indiferente como cidadão à obrigatoriedade da obediência à Lei. Passa por cima de tudo, até do respeito aos bons costumes. Dizem que ele é um vitorioso. Contesto. Ele é um comerciante esperto, comprou e ganhou todas as eleições. Que o digam Maranhão, Cássio, os Morais de Santa Luzia, os Galdino de Piancó, os Braga de Conceição, os Maias de Catolé do Rocha, os cajazeirenses e cajazeirados, os parceiros de Sousa, e de todas as cidades paraibanas. A sua vida é construída na soma de fenômenos, no caso, que o envolvem e ele patrocina, alguns estapafúrdios e imorais criando legenda. 
    Sem pretender ofender, somente noticiar o que é de todos conhecido, ele foi incluído na mídia, mediante apresentação (suponho) de argumentos e documentos como o governador mais rico do Nordeste; e desapareceu de circulação, todos lamentam e sentem a ausência de sua bela esposa a inteligente e suave jornalista Primeira Dama Pamela Bório. Falou-se em choque incontornável de temperamentos, até em Lei Maria da Penha. Fico com a última hipótese. Enquanto isso, a Paraíba chora as suas dores, no azar do destino, do personagem do Poeta do EU: 
    ”Ah um urubu pousou na minha sorte!”
    Agora mudando o personagem, o meu amigo e conterrâneo Inaldo Leitão revela-se confuso ante a realidade política paraibana. Não duvido da sua inteligência. O problema é que ele tem viajado muito, perdido o contato com a nossa realidade. Melhor para ele. Porque Ricardo é esperto, safado e competente nas suas ações. Nada mais de socialismo. Sabe que a Globalização é fruto do neoliberalismo, que tem na supremacia do Mercado a sua realização. Conhece a cotação, as potencialidades eleitorais do momento, o valor de cada liderança no balcão de negócios, regateia como no mercado, paga o preço, ganha a eleição. Esta a nossa democracia. Assim será enquanto prevalecerem os preceitos de Ali Babá.
    Outro engano de Inaldo. Ele escreve com todas as letras que FHC é o pai do desenvolvimento do equilíbrio econômico do país. Dá pena semelhante desinformação partindo de um prócer do seu quilate, que chegou ao governo do Estado. 
    Acompanhei através da imprensa, o trágico e doloroso processo de privatização de empresas públicas nacionais, com a submissão do governo brasileiro às normas do "neo-liberalismo" que entregava o destino da população de todo o mundo ao Mercado Global. Aqui foi perpetrado o maior e mais vergonhoso assalto ao patrimônio e honra de uma nação, precisamente no governo de Fernando Henrique Cardoso o mais venal e achacador propineiro de todos os tempos no nosso país. Denunciei a ação lesa pátria iniciada com Delfim Neto e sua gangue na ditadura militar.
    Veja você amiga Lena, como pouco temos a conversar, dado a divergência dos nossos raciocinios sobre a Paraiba e os seus líderes atuais. Gostaria entretanto de vê-la, quem sabe naquele ambiente antigo em que Biu me enclausurou e eu perdi uma eleição: o Cassino da Lagoa, se ainda funcionar. Com personagens do tempo se ainda viverem.

     
     
     
     
     
     

     

     

     

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