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  • O pagamento - uma história de Sousa

    15/06/2014

     Cervejeiro dos bons, socialmente muito ativo e presença desejada nas melhores mesas sousenses. Seu nome era Expedito Oswaldo de Sousa, mas era conhecido mesmo (não sei a razão) como Carrapeta. Costumava contar causos, verdadeiros ou não, sobre si mesmo.

    Vou recordar um deles, que ouvi do próprio. Ele me contou que devia um dinheiro ao industrial Luis Pereira de Oliveira, fruto de um adiantamento que pedira para pagar com algodão, logo após a colheita. Como o inverno não veio, o algodão não apareceu. Seca, mais uma, eis o problema.

    Foram inúmeras as cobranças, mas Carrapeta sempre conseguia postergar o pagamento da dívida. Até que um dia o espirituoso devedor compareceu no escritório de Seu Luis e bradou: “vim pagar minhas promissórias com juros e correção”. O credor, estupefato, logo se apressou a abrir o cofre, recolher a papelada, fazer os cálculos e exibir a conta.

    Como um raio, Carrapeta preencheu o cheque e saiu dali com um punhado de notas promissórias amarrotadas pelo tempo. Quase com a mesma velocidade, o industrial pegou seu guarda-chuva e seguiu direto para resgatar o cheque no Paraiban. Fila grande, mas a paciência de Seu Luis suportava qualquer sacrifício para dar um fim à longa espera do surpreendente pagamento da velha conta.

    Diante do caixa e com um discreto sorriso estampado no rosto, o portador
    entregou a cártula e ficou esperando contar o dinheiro. O ar sorridente se esvaiu quando o caixa informou que aquele “cheque” não tinha qualquer valor – era uma requisição de talão de cheques.

    Não sei se os dois personagens acertaram a conta um dia, porque também não sei se essa história é real. Talvez tenha sido uma bravata de Carrapeta com o intuito de provocar gargalhadas nas ruas de Sousa.

    P.S.: Luis Oliveira era uma das figuras mais admiráveis que conheci. Homem de posses, tinha uma postura serena, um silêncio que falava e uma simplicidade exuberante. Carrapeta, com sua cabeleira branca e sempre sorridente, foi um querido amigo e personagem singular da terra sousense. Além de ser tio de Aíla.


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