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  • Minha vida de engraxate

    07/05/2014

     Desde os tempos de menino eu sempre tive uma queda para ganhar uns trocados seja lá no que fosse. Certo dia, quando tinha mais ou menos 10 anos de idade, resolvi comprar escova, flanela e latas de graxa nas cores preta, marrom e incolor. A partir de então passe a ter uma profissão: engraxate.

    Exerci esse ofício nas casas de parentes. Clarence Pires, casado com minha tia Risélia, passou a ser meu cliente, ao lado de Jucélio Rocha e outros. Com o ganho, não precisava pedir dinheiro aos meus pais para ir ao cinema assistir Rocky Lane, Doutor Satan ou Tarzan no Cine Moderno e cobrir outros gastos.

    O que eu não esperava era que minha nova ocupação fosse interrompida por um problema que surgiu dias depois. É que em Sousa tinha um engraxate chamado Doge, um cidadão de meia idade, baixo e que engraxava calçados à domicílio. Tinha mais quilômetros rodados pela cidade do que o caminhão de Seu Varela. A cada dez metros de caminhada pelas calçadas, parava e bradava com a força dos dois pulmões: engraxaaaaaaaaate!!!

    Senti que havia tomado alguns clientes de Doge. Eu ainda não sabia o que era concorrência desleal, mas hoje sei que o sentimento era esse. Tinha pena do velho engraxate toda vez que o via caminhando e gritando pelas ruas. Abandonei a nova profissão, aliviado.

    Bem, Sousa perdeu um engraxate. Mas ganhou o que eu fui em seguida e sou até hoje.

    Moral da história: estudar é preciso.


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