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  • Perdido na rua

    22/04/2014

     Ontem acordei com uma ideia estranha. Queria andar pelos lugares de Brasília e conhecer um mendigo. Conversar com ele. Saber da sua vida. 

    Fui ao Setor Comercial Sul e lá estava quem eu procurava. Seu nome era composto: José Francisco. “O nome do Papa e do Santo”, foi logo me dizendo. Eu emendei: e do meu pai também! Como tem Francisco e José neste mundo, pensei comigo mesmo.

    Sentado na calçada, sujo, barbado, cabelos retorcidos, roupas puídas e uma latinha na mão para recolher as moedas doadas acidentalmente, o meu interlocutor não fez uma única queixa da condição de miserável. “Esse é o meu destino, estou aqui para pagar pelo que fiz em outra vida”, filosofou.

    A história de Francisco José pode ser a reprise da de outros mendigos espalhados pelas calçadas do desamparo. Perdera a mulher precocemente no parto daquele que seria o primeiro filho, abandonara o trabalho de servente de pedreiro e mergulhara no alcoolismo desenfreado. 

    Agora estava ali: solitário em meio à multidão, faminto na maior parte do dia e sempre aflito com a chegada da noite – não gostava do escuro. Associava a escuridão com a morte e quase sempre acordava com a sensação de que algum mal feitor estaria a caminho para tirar-lhe a vida.

    Dei-lhe uma cédula que ele jamais havia visto, desejei-lhe boa Páscoa e ele, com 51 anos e cara de 70, abriu o sorriso desdentado e disse: “Deus lhe pague!”. Amém.

    Apesar de pesares como este, vamos seguir em frente com fé em Deus e Jesus no coração. Feliz Páscoa a todos os amigos e amigas que a vida me deu de presente.


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