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  • Entre dois amores

    09/04/2014

     Houve uma eleição que ficou na história de Sousa por duas ordens diferentes de razão. A saber.

    Foi no ano de 1947 que a eleição sousense foi polarizada entre o Major Emídio Sarmento de Sá (PSD), meu avô, e o Coronel José Ferreira Rocha (UDN), meu bisavô. Ou seja, o inédito confronto era entre genro e sogro. Na incômoda posição de escolher entre o marido e o pai – seus dois amores –, estava minha avó Maria Olívia. 

    Certa vez perguntei a ela em quem tinha votado. “Depois que a mulher casa, deve acompanhar o marido. Votei em Emídio, mas não deixava ninguém tirar voto do meu pai”, disse, com orgulho e firmeza.

    E contou um fato ocorrido no dia da eleição. Era tradição naquela época o candidato matar bois e preparar o almoço dos eleitores. Já passava do meio dia quando um cidadão da zona rural desmaiou na frente do sobrado do candidato Emídio. Foi socorrido para o interior da residência e, quando recobrou os sentidos, veio a saber que estava na casa do candidato do PSD. Desesperado, pediu para sair dali, pois votava no candidato adversário, José Rocha.

    Quando percebeu que os cabos eleitorais tentavam convencer o homem a mudar o voto, minha avó interveio com firmeza. ”O senhor não vai sair daqui agora, vai almoçar e depois vai votar no meu pai”, sentenciou.

    Meu avô venceu a eleição com 2.519 votos, meu bisavô obteve 2.063 e Eládio Melo (PDC) 1.611. Terminada a apuração, o candidato da UDN foi jantar na casa do candidato eleito do PSD. Hoje, o encontro entre vitorioso e derrotado depois da proclamação do resultado da eleição pode terminar em bala.


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