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  • As canções que você fez para mim

    21/06/2015

     

    As músicas têm o poder de marcar o tempo e o lugar em que você estava quando as ouviu. As canções de Roberto Carlos, todavia, produzem esse fenômeno com maior intensidade. Uma das razões deve ser porque o Rei é único. Paulo Sérgio (1968) lançou-se na música com uma voz muito parecida com a do Roberto. Ele respondeu com o LP O Inimitável (1969). Como explicar o sucesso de um cantor que lançou o primeiro disco em 1963 (Splish Splash) e hoje, aos 70, continua fazendo coro com os passarinhos nas alturas das paradas?

    Vou tentar uma explicação. Toda vez que ouço as canções de Roberto Carlos, penso que foram feitas para mim, tamanha é a identidade que tenho com elas. Vocês não sentem o mesmo? Se ouço Detalhes, logo me transponho para os anos de 1970 e me vejo nas tertúlias de Sousa ou do Recife, onde estudava. Com minha calça desbotada ou coisa assim, lembrava dos detalhes de um amor que partiu, mas fazia uma ressalva soberba: não adianta nem tentar me esquecer.

    E Ana, alguém lembra? Quem não procurou uma Ana pelo caminho da vida, chegou à conclusão que não ia achar sozinho e, ao perdê-la, não confessou (?): “que saudade de você”. Quem não tem uma história pra contar debaixo dos caracóis dos seus cabelos, longe dos seus e do lugar que lá deixou? Quem já não parou diante do portão, viu que tudo estava igual como era antes e voltou? Sim, voltou pra ficar, porque aquele é o seu lugar.

    Muitas vezes olhei para o céu, vi uma nuvem branca passando e bradei: “Jesus Cristo, eu estou aqui!” E pedi paz e fé para a multidão que ia caminhando. Quantas vezes, diante de nossas perdas, as flores do jardim da casa não morreram de saudade de quem partiu? E aquela namorada que vivia tão longe de você? Não adiantavam as cartas, era preciso ouvir a tua voz. E quem nunca sentiu ciúme e ficou louco procurando por você? Quando o coração tem amor demais, meu bem, essa é a razão.

    Já pensou em ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar (viver)? Não é bom ter um amigo de fé, irmão, camarada, cujo coração é uma casa de portas abertas e o mais certo nas horas incertas? Ou dizer para sua mãe que quer ser novamente um menino e pedir para te contar uma história que te faça dormir? E aquele seu querido, seu velho, seu amigo, de olhar cansado e cabelos brancos, que tanto te ensinou do mundo, com suas rugas marcadas pelo tempo?

    Por vezes me desespero a procurar alguma forma de lhe falar tudo aquilo que minha alma sente. Nestas horas, contemplo as pessoas que amo e sai lá de dentro um grito de silêncio, que diz: como é grande o meu amor por você. Esse é o Roberto Carlos que canta, encanta e é o intérprete mais completo do sentimento da saudade, do amor, da vida e da fé. Vida longa para o Rei!

    P. S.: texto escrito por ocasião do aniversário de 70 anos de RC, nunca publicado e que ora compartilho com os amigos do Facebook.


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