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  • RC apartou minha briga

    14/04/2015

     O episódio que vou contar aqui é publicado a pedido do intrépido Otacílio Trajano, um cajazeirense sousado que adora um moído. Em 1979, eu e Dr. Titi fazíamos o programa Encontro Marcado na Rádio Progresso de Sousa, das 11h ao meio dia. Como controlista de som e coprodutor, o próprio Otacílio.

    A ideia inicial era fazer um programa cultural-musical. O formato não deu certo porque na minha cidade não se vive sem respirar política. Fomos evoluindo na abordagem dos mais diferentes temas, inclusive...políticos! Polêmica era o que não faltava.

    Uma delas eu travei com o advogado e vereador Gilson Gadelha Cordeiro. Não lembro bem como começou o embate, nem por qual razão. Bem, o motivo certamente era banal para que me fugisse à lembrança. Mas o bate-boca não tinha trégua.

    Até que em certo momento o radialista, jornalista e teatrólogo Chico Cardoso veio me entrevistar para o seu borbulhante “Caldeirão Político”. Resolvi colocar um ponto final na briga verbal. “Eu acho que Gilson deveria parar com essa frescura e ir cuidar da vida dele.” Bomba!

    O caldeirão ferveu. Gilson botou na cabeça que eu o havia chamado de fresco. “Se ele me mandou deixar de frescura, é porque está me chamando de fresco”, raciocinou enviezadamente o suposto ofendido. Por mais que eu explicasse que aquela era uma expressão sem essa conotação, mas apenas uma forma de dizer que aquela era uma discussão exagerada, sem sentido e inútil, não adiantava.

    Pelo repertório musical daquela época desfilavam nomes como Gal (Força Estranha), Bethânia (Explode Coração), Zé Ramalho (Avohai), Wando (Emoções), Roberto Carlos (Na Paz do Seu Sorriso), Rita Lee (Mania de Você), Belchior (Medo de Avião), Carlos Alexandre (Feiticeira) e o hino de todos os bregas, Garçom (Reginaldo Rossi). Eram as músicas que mais ouvíamos em lugares como o Castelinho de Walter, o BNB Clube, a Churrascaria de Diassis, o Campestre, o Bar de Zé Mendes e na Festa de Setembro.

    Dia seguinte, ouvindo o rádio do meu carro, toca a música Além do Horizonte, do Roberto Carlos. Há um trecho que diz assim:

    BRONZEAR O CORPO TODO SEM CENSURA
    GOZAR A LIBERDADE DE UMA VIDA SEM FRESCURA...

    Como não me lembrei da música antes? Agora Gilson ia entender que a palavra não era ofensiva, já que o Rei não ia mandar o Brasil inteiro virar fresco. Levar uma vida sem frescura significava deixar de lado manias bestiais e ser leve e feliz. Na abertura do programa, pedi a Otacílio Trajano que tocasse a melodia. Ofereci a Gilson. E ele finalmente entendeu. Tempos depois reatamos nossa amizade.

    A lição que fica: se você é ligado em frescuras, deixe essa coisa de lado e abra o sorriso para o mundo. Faz bem à saúde.

     

     

     


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