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O crime da Bambu
03/01/2018
Em novembro de 1971 um crime abalou João Pessoa. Jovens de classe média alta, da capital paraibana, após uma noite de bebedeira, resolveram encerrar a farra envolvendo-se em uma briga contra um taxista, ao lado da icônica Churrascaria Bambu, na Lagoa.
Dessa briga, disseram os autos da investigação, após ‘exemplar’ surra no profissional do volante, um tiro encerrou o ato, tendo como resultado a morte do taxista, e a prisão, quase que imediatamente depois, de alguns desses jovens.
Vivíamos uma época dura da política nacional, em meio a uma sociedade, como a de João Pessoa e outras pelo Nordeste afora, de arraigados sentimentos patriarcais e aristocráticos uma vez que alicerçados no poder das famílias mais abastadas ou bem-postas na sociedade.
Para resumir os fatos, apesar de alguns terem sido presos, um último e definitivo júri popular acabou por livra-los definitivamente de responderem criminalmente pela morte do taxista, encerrando a disputa judicial.
Como o episódio aconteceu vizinho à Churrascaria Bambu, ali, na parte do Parque Solon de Lucena que dá continuidade à Souto Maior, onde existia uma praça de táxis dispostos a levar para casa os bêbados da noite, ficou conhecido como “o crime da Bambu”.
É impossível registar fatos que compõem a memória pessoense sem que tenhamos de, necessariamente, revisitar aquela situação, em virtude da imensa repercussão que alcançou nos órgãos de imprensa de então.A maior vítima do episódio foi, indubitavelmente, o motorista, que morreu, e sua família, que perdeu o chefe, aquele que levava o de comer para casa. Saiu perdendo, também, a sociedade paraibana, que, à época, chorou a impunidade.
A Bambu, enquanto histórico local onde se encontravam intelectuais da mais vária orientação ideológica, com nada a ver com aquilo, também saiu perdendo já que, dizem as más línguas, acabou fechada, dois anos depois, para que o episódio acabasse esquecido.
Os rapazes envolvidos, eram, a um só tempo, vítimas e algozes. Vítimas por que resultantes da ideologia de uma sociedade onde os mais ricos se sentiam estimulados a agirem estupidamente, garantidos pela impunidade, apenas para mostrarem força e poder. Algozes, evidentemente, pelo fato de terem morto violentamente um trabalhador.
Assim, enquanto o tempo correr, o assunto haverá de voltar à tona, como tem acontecido desde que o crime foi perpetrado, marcando, indelevelmente, a história da Bambu, do Parque Solon de Lucena e de João Pessoa.A grande maioria daqueles jovens, ou, mesmo, a sua totalidade, deve amargar profundo arrependimento por conta do acontecido, e, certamente, não criaram seus filhos orientados com a mesma filosofia de vida que os marcaram tão dramaticamente naquele infeliz momento da vida pessoense.
Mas, a história existiu, e não pode ser apagada.
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